Colheita de café: tudo o que você precisa saber

A colheita de café é uma das etapas mais importantes da cafeicultura e pode ser feita de três maneiras: manual, semimecanizada e mecanizada

Colheita de café (Envato Elements)

Na cafeicultura, um dos principais fatores que geram aumento da rentabilidade é a qualidade dos grãos durante a colheita de café, que influencia diretamente na bebida.

Uma boa colheita de café é aquela que garante a manutenção da qualidade dos grãos, que ainda vão passar por outras etapas de pós-colheita, até serem comercializados.

Existem três maneiras de fazer a colheita do café: manual, semimecanizada e mecanizada. Cada uma atende às necessidades específicas de uma propriedade rural. Confira!

Importância de uma boa colheita de café

Ter uma boa colheita de café é importante para conseguir uma bebida de alta qualidade, que tende a ser mais valorizada pelo mercado, possibilitando melhores rendimentos.

Para isso acontecer, é essencial obter grãos de qualidade, em menor tempo e com redução de custos.

Além disso, são necessários cuidados na pré-colheita e no pós-colheita, que variam conforme a realidade de cada fazenda.

Na pré-colheita, os manejos de adubação e fitossanidade devem ser realizados nas épocas recomendadas para as aplicações, de preferência com base em mapas de taxa variável.

Sendo importante serem realizados desde o plantio da muda do café, pois o trabalho na implantação da lavoura impactará no desenvolvimento do cafezal.

Por isso, já na fase inicial, é necessário verificar o melhor método de colheita, levando-se em conta as características do terreno, o tipo de bebida que se deseja obter, a produtividade esperada e a relação custo-benefício.

A produção de cafés especiais, por exemplo, exige que a colheita seja realizada de forma seletiva, para haver a maior quantidade de grãos maduros (cereja), já que a mistura com grãos verdes reduz a qualidade da bebida.

Já os cafés voltados para exportação como commodity, exigem menos rigor, mas ainda assim, devem ser tomados cuidados necessários para obter o máximo de qualidade possível.

Qual é a época de colheita do café?

A época da colheita do café, independente da espécie, arábica (Coffea arabica) ou conilon (Coffea canephora), deve ser iniciada quando as plantas estão com 80% a 90% dos frutos maduros, já com a coloração semelhante a uma cereja.

Mas, a depender da variedade, a coloração pode ser vermelha ou amarela.

É o caso da variedade arara, que possui frutos maiores da cor amarela, de maturação tardia e com alto potencial produtivo, além de ser resistente à ferrugem, uma das principais doenças do café.

O início da colheita do café pode ser influenciado por diversos fatores, como:

  • variações climáticas (temperatura, pluviosidade);
  • face de exposição do terreno ao sol;
  • sistema de plantio (aberto ou adensado);
  • disponibilidade de mão de obra ou maquinário.

Em áreas com alta umidade do solo, por conta de chuvas ou irrigação no final da fase de granação (enchimento dos grãos) e início de maturação, a colheita pode ser tardia.

Devido a esses fatores, a época da colheita de café, de forma temporal, pode ocorrer entre os meses de março/abril (antecipada) ou até novembro/dezembro (tardia).

A maioria das áreas de produção fazem a colheita de café no Brasil entre junho e agosto. As fases de desenvolvimento dos frutos são as de chumbinho, verde, verde-cana, cereja, passa e seco.

Colheita do café

Café do tipo cereja (Foto: Envato Elements)

Em uma mesma área, a colheita pode ser feita de uma a três vezes, dependendo do nível de variabilidade de maturidade dos grãos, estrutura de secagem e da mão de obra disponível.

A diferença de maturidade dos grãos tem influência da florada em datas diferentes e do posicionamento da lavoura em relação ao sol e ao clima.

Quando iniciar a colheita de café

Siga esse método para avaliar quando iniciar a colheita do café:

  1. escolha quatro plantas representativas de uma gleba ou talhão;
  2. colha os frutos e verifique a quantidade;
  3. misture os cafés e retire um litro, separando os frutos por estádio de maturação (verde, verde-cana, cereja, passa, seco);
  4. obtenha a quantidade de frutos em cada fase.

Considerando uma área de 1 ha com cerca de 5 mil pés de café, com quatro cafeeiros escolhidos na amostragem, sugere-se uma porcentagem de 5 a 20% de grãos verdes para iniciar a colheita.

Quais são os métodos de colheita do café?

São três os métodos de colheita do café: manual, semimecanizado e mecanizado.

Uma pesquisa recente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e pelo portal CaféPoint mostrou que 25% dos produtores de café do Brasil realizam colheita mecanizada, 23% com derriçadeira (semimecanizada) e 42% de forma manual.

Colheita manual de café (Foto: Envato Elements)

Os outros 10% fazem a colheita seletiva, que pode ser feita de forma manual ou mecanizada.

Colheita de café manual

Na colheita manual, a derriça dos frutos do café é realizada por trabalhadores rurais. Para reduzir custos e aproveitar o tempo, é preciso fazer um planejamento da colheita.

O planejamento consiste em aproveitar a amostragem por gleba ou talhão para dimensionar os recursos materiais (panos de café, peneiras, EPIs), o transporte, recursos financeiros e mão de obra necessária.

É possível fazer o planejamento da colheita de café manual da seguinte forma, tendo como exemplo uma área de 5 hectares:

  • nº de cafeeiros: 20.000 pés;
  • divisões em três glebas ou talhões;
  • avaliação do ponto de maturação por amostragem;
  • 60 litros de café colhidos em 12 pés (4 pés por talhão).

Veja mais detalhes abaixo:

Resumo do planejamento da colheita manual (Fonte: Emater-MG)

Um dos principais benefícios da colheita manual é a possibilidade de escolher somente os cafés que estão maduros (cereja), fazendo, assim, a colheita seletiva.

Caso a lavoura esteja muito desuniforme, pode ocorrer de terem de ser feitas de duas a três colheitas, o que eleva o custo de produção.

Colheita de café semimecanizada

A colheita semimecanizada ocorre por meio da derriçadeira, cuja produtividade é de entre 2 a 3 vezes mais que a manual, além de expor o trabalhador a menos riscos. 

As derriçadeiras são equipamentos portáteis, manejados manualmente, e provocam a vibração e a quebra dos frutos.

Esse tipo de método de colheita não permite a seletividade dos grãos e não é recomendado para lavouras de primeira e segunda safras, pois gera o depauperamento, ou enfraquecimento, das plantas. 

Colheita de café mecanizada 

A colheita mecanizada é realizada por meio de máquinas colhedoras, que proporcionam alto rendimento, permitem fazer a colheita seletiva e até antecipar a colheita.

A seletividade é possível por meio da regulagem de vibração e do número de varetas, da velocidade e do freio. No entanto, só é possível de ser realizada em áreas planas ou de baixa declividade.

Seleção dos grãos na colheita de café

A seleção dos grãos na colheita do café é essencial para quem produz cafés especiais.

Na colheita manual, a seleção já ocorre de forma direta, com a derriça feita somente dos frutos maduros, que caem em cima de panos colocados aos pés do arbusto do café.

Antes de serem ensacados, os grãos ainda passam por uma peneira para retirada das folhas e galhos, além de outros frutos fora do padrão que eventualmente possam ter caído.

Geralmente, a colheita seletiva manual é feita somente na primeira passada. Por exigir muita mão de obra, ela representa um dos principais custos para a fazenda.

Assim, deve-se escolher o momento certo de fazer a colheita, observando-se critérios agronômicos e fatores climáticos, devendo-se também prezar sempre pelo bem-estar dos colaboradores, com fornecimento adequado de materiais de trabalho.

Na segunda passada, pode ser usada a derriçadeira costal, fazendo, assim, a colheita semimecanizada.

Fazendas que utilizam a colheita mecanizada também fazem uma ou mais passadas durante a colheita e a seleção dos grãos ocorre no pós-colheita.

Independente da forma de colheita de café, um dos fatores que se deve ter o máximo de cuidado é com a quebra de galhos e ramos, além do arranque de folhas.

Eles podem gerar estresse nas plantas e torná-las suscetíveis às doenças e ao ataque de pragas, tendo como consequência a redução da produtividade na próxima safra.

O que fazer na pós-colheita do café

No pós-colheita do café também devem ser seguidas etapas para obter a melhor qualidade da bebida.

Após colhido, o café deve ser transportado até o local para processamento dos frutos e secagem dos grãos. 

No processamento, o café deve ser limpo para a remoção de impurezas e outros materiais, como folhas, ramos, terra, paus e pedras.

Na sequência, precisa ser submetido à lavagem e separação para retirada de impurezas e separados em dois grupos: cereja e verdoengos; e frutos “boia” (passa e seco).

Com relação à lavagem e a separação dos frutos, podem ser realizadas operações que caracterizam o processamento por via seca ou úmida.

Pela  via seca, os frutos precisam ser encaminhados à secagem, dando origem aos cafés em coco ou natural. Nesse processamento, o investimento é menor do que no úmido.

Já na via úmida, os lotes de frutos cereja passam pelas operações de despolpamento, fermentação e remoção da mucilagem e, posteriormente, são destinados à fase de secagem.

Grãos de café secando ao sol (Foto: Envato Elements)

Na sequência, são processados por via seca e úmida, passando ainda pela etapa de secagem, a qual consiste na remoção de parte da água até atingir o teor de umidade de 10,5% a 11,5%.

Essa porcentagem de umidade é necessária para os grãos terem condições adequadas de beneficiamento, armazenagem e comercialização.

O método de secagem recomendado pode ser diferente em função das condições climáticas da região. Há regiões em que os cafés são secos em estufas.

É preciso evitar a fermentação nessa etapa e não deixar o café ser submetido a temperaturas elevadas por muito tempo, devendo-se ter cautela acima de 40ºC.

Como fazer a gestão da colheita do café?

Na gestão da colheita do café, é de grande importância ter clareza sobre os investimentos realizados, controlar os custos e, posteriormente, analisar os dados.

Além de planilhas e aplicativos, você pode fazer isso por meio do sistema ERP da Perfarm, onde é possível, por exemplo, fazer a gestão da mão de obra interna e terceirizada em um só lugar. 

Isso possibilita você analisar o desempenho de cada trabalhador, a partir dos dados sobre o rendimento individual e da equipe, além do controle de pagamentos para os colhedores manuais, que recebem por litro colhido.

É possível observar também se o que está sendo realizado é o que foi planejado, dando a oportunidade de fazer correções com vistas ao melhor desempenho.

Assim, o sistema de gestão da Perfarm favorece análises completas, tanto de forma geral quanto individualizada, seja das atividades da produção em si, como apropriação do custo de formação do cafezal.

Outro ganho de eficiência é que você pode analisar os dados sobre o fluxo de caixa durante as fases de pré-colheita, colheita e pós-colheita do café.

Com isso, você cria estratégias de atuação no mercado e faz comparações sobre o que está dando mais retorno econômico.

Como analisar investimentos e lucros da colheita de café

A metodologia ideal para analisar investimentos e lucros na colheita de café é a do regime de competência, que possibilita ter maior controle sobre o fluxo de caixa rural e a análise da DRE (Demonstração de Resultado do Exercício).

No regime de competência, você sabe de onde está vindo o dinheiro e para onde ele está indo: se com maquinários para a colheita, mão de obra, equipamentos, pequenos serviços de manutenção e melhorias de infraestrutura, etc.

Ao utilizar esse método, os lançamentos contábeis e financeiros no seu sistema serão feitos com maior exatidão, e ao final você analisa os dados e verifica o que precisa ser aperfeiçoado para o desenvolvimento da sua fazenda.

Quanto vale uma colheita de café?

Uma colheita de café, até o final de abril de 2023, estava valendo R$ 1.008,01 a saca de 60 kg, para a espécie arábica, e R$ 696,40 para o conilon, até o final de maio, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

A variação do preço do café, segundo analistas do Itaú BBA Agro, terá muita influência do clima em 2023, sobretudo na época da colheita, que indicam tempos mais secos.

Assim, a colheita deve ganhar ritmo assim que os grãos estiverem maduros, e com a entrada de mais grãos no mercado, o preço tende a reduzir.

A previsão do NOAA (serviço meteorológico americano) é a de que o El Niño atinja o Brasil de junho a agosto, causando inverno mais seco e chuvoso. 

Segundo analistas do Itaú BBA Agro, há perspectiva de leve melhora da produção em 2023, assim como para 2024/25.

Por isso, dizem, é importante o produtor se proteger através da fixação de preços.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima produção de café em 54,74 milhões de sacas na safra 2023, aumento de 7,5% em relação a 2022.

Como armazenar o café

A armazenagem de café deve seguir procedimentos padrão para que ele seja mantido por muito tempo estocado e não perca a sua qualidade.

Economicamente, a estocagem pode ser uma boa estratégia de obter maiores lucros com o café, ao aproveitar momentos de alta do preço para poder comercializar.

Mas para que isso seja feito é necessário ter capital suficiente para não deixar o caixa da fazenda no vermelho enquanto aguarda-se chegar o preço ideal.

Uma boa armazenagem de café, geralmente, é feita num ambiente com temperatura em torno de 20º C, e umidade relativa do ar de 65%.

Já a umidade do grão, não pode ser menos de 10,5% e nem passar de 12%.

Armazenamento de café em sacas de 60 kg (Foto: Envato Elements)

O armazenamento do café pode ser feito em:

  • tulhas: estruturas de metal, alvenaria ou madeira, construídas em terreno suspenso ou secador. O grão pode ser estocado a granel ou em sacaria. Na tulha, o café só pode ficar no mínimo 30 dias;
  • silos: muito utilizado para armazenar grãos, como soja e milho, os silos também servem para armazenar café. Ele são de dois tipos: móvel (silos bag) e fixos, que possuem modelos já com secadores, o que representa uma vantagem.
  • armazéns: essa é a forma mais tradicional de armazenagem, podendo o café ficar em sacas de 60 kg (juta) ou em big bags. Geralmente, são utilizados galpões, onde não pode circular animais, deve ter boa circulação de ar, sistema contra incêndios, piso de concreto impermeável (40 cm acima do nível do solo).

Na maioria dos casos, os cafés brasileiros são estocados em armazéns de cooperativas, já que muitos produtores vendem seus produtos, que ficam armazenados até a comercialização na época que o preço está melhor.

Conclusão

O Brasil, por ser o maior produtor e exportador mundial de café, deve prezar sempre pela qualidade do seu produto.

E uma das formas de fazer isso é utilizando métodos ideais para a realização da colheita.

Seja de café commodity ou de qualidade, a colheita do café exige cuidados especiais para que o produto seja mais valorizado e gere mais rentabilidade.

>> Tem alguma dúvida sobre a colheita do café? Deixe seu comentário abaixo!

Mario Bittencourt

Analista de Copywriting da Perfarm, é jornalista e pós-graduado em Agricultura de Precisão e em Ciência de Dados. Faz mestrado em Agricultura de Precisão na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

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