Investir em bezerro ou boi magro: qual compensa mais?

Bezerro ou boi magro: saiba quais são as estratégias que você deve utilizar antes de tirar o dinheiro do bolso e investir em animais de cria ou recria

Bezerro ou boi magro (Shutterstock)

Na pecuária de corte, quando se trata da compra de novos animais, uma das dúvidas dos produtores rurais é sobre em que investir: bezerro ou boi magro?

É de grande importância que essa pergunta seja feita, afinal esse é um tipo de investimento que deve ser realizado no momento certo para trazer o retorno financeiro esperado.

Além do próprio ciclo da pecuária, principal fator a ser observado na compra, é preciso analisar o mercado atual e as perspectivas de preços futuros.

Outro ponto a ser considerado é com relação à infraestrutura para criação, sobretudo de pastagens, que dará o suporte essencial para o desenvolvimento dos animais. Confira!

Diferenças entre bezerro e boi magro

O bezerro e o boi magro são animais diferentes no ciclo de produção na pecuária de corte. Cada um possui características distintas e específicas para os criadores.

Em termos de estratégias de negócio, a decisão de investir em bezerro ou boi magro depende de vários fatores, como disponibilidade de recursos, mercado de compra e venda, além da capacidade de gerenciamento.

Cada fase apresenta desafios e oportunidades diferentes para os produtores e a escolha dependerá dos objetivos individuais de cada propriedade e das condições de mercado.

Leia também: O que é pecuária de corte?

Principais características do bezerro

No ciclo da pecuária, o bezerro é o produto final da fase de cria. São os cuidados com o animal nessa fase, desde o seu nascimento, que vão determinar o desenvolvimento para as demais fases de recria e engorda.

Algumas das principais características do bezerro são:

  • Idade: geralmente, um bezerro tem menos de um ano de idade. Dependendo do objetivo de produção, pode ser considerado um bezerro quando o animal atinge entre 7 a 9 meses de idade;
  • Peso: os bezerros têm pesos variáveis, mas normalmente ficam em torno de 80 a 200 kg. O peso é um fator importante, pois o mercado de bezerros é amplamente influenciado por ele. Na pecuária é muito comum o peso do animal ser medido por arroba (1 arroba = 15 quilos);
  • Desmama: a fase de desmama é quando o bezerro é separado da mãe e deixa de se alimentar exclusivamente de leite materno. Isso geralmente ocorre entre 6 e 9 meses de idade. A desmama é um momento crítico para o desenvolvimento do bezerro, mas quando os manejos nutricional e sanitário são feitos da forma correta o animal se desenvolve bem.
  • Necessidade nutricional: os bezerros têm alta demanda nutricional, pois estão em fase de crescimento acelerado. Eles sustentam uma dieta adequada em termos de proteínas, minerais e vitaminas para garantir um desenvolvimento saudável

Principais características do boi magro

O boi magro é o produto final da fase de recria, estágio intermediário entre o bezerro e o boi gordo, que é encaminhado para o abate.

Veja algumas das características do boi magro:

  • Idade: o boi magro geralmente tem entre 12 e 24 meses de idade, dependendo das práticas de manejo e da raça do animal. Assim que sai da fase de cria, o animal é considerado boi magro;
  • Peso: pode variar consideravelmente, mas normalmente fica entre 200 kg e 450 kg. O peso é um fator crucial para determinar se o animal está pronto para ser encaminhado para a engorda;
  • Nutrição e engorda: o boi magro está em fase de desenvolvimento para ser encaminhado à terminação, que é a fase de engorda. Nesse estágio, é comum que os animais sejam colocados em pastagens de qualidade ou alimentados com dietas ricas em energia, como grãos e suplementos, para promover o ganho de peso;
  • Tempo de engorda: O tempo necessário para engordar um boi magro varia dependendo da raça, genética, alimentação e manejo. Em geral, pode levar de alguns meses a um ano para um boi magro atingir o peso adequado para o abate.

4 coisas para analisar antes de investir em bezerro ou boi magro

A decisão de um pecuarista em comprar um bezerro ou um boi magro é uma escolha estratégica que requer uma análise cuidadosa de diversos fatores.

Afinal, essa decisão pode ter um impacto significativo nos resultados econômicos e na rentabilidade do negócio pecuário.

É preciso considerar o ciclo pecuário, fatores econômicos e de mercado, custo de produção, rentabilidade e aspectos legais e sanitários, até mesmo porque cada ponto de observação tem vantagens e desafios próprios para ajudar no alcance dos objetivos do pecuarista.

1. Ciclo pecuário

O ciclo pecuário é um dos fatores fundamentais a serem analisados. Ele compreende as fases de cria, recria e engorda dos bovinos.

Os bezerros são os animais que estão na fase de cria, enquanto os bois magros os da fase de recria. Dependendo do objetivo do pecuarista e do momento do ciclo pecuário, a escolha entre bezerro ou boi magro pode variar.

Por exemplo, se o objetivo é ter um maior controle sobre a genética do rebanho e ter um menor período de engorda, é essencial a utilização de animais oriundos de boas matrizes.

Mas fique atento ao preço do bezerro no ciclo da pecuária, pois, quando há escassez de animais de reposição, o preço do animal sobe por conta da alta procura.

2. Fatores econômicos e do mercado

O mercado pecuário é influenciado por uma série de fatores econômicos, como demanda por carne, oferta de animais, variações nos preços dos insumos e das commodities, entre outros.

É importante analisar essas variáveis para identificar qual opção, bezerro ou boi magro, oferece maior vantagem econômica no momento da compra.

Se há uma escassez de animais prontos para o abate no mercado e os preços estão favoráveis, pode ser interessante adquirir boi magro para aproveitar o momento de valorização.

Cálculo do ágio do bezerro

Na gestão da pecuária, o cálculo do ágio do bezerro tem grande relevância, sobretudo a longo prazo, pois ele mostra diferença de preço entre a arroba do bezerro e a arroba do boi gordo.

O cálculo do ágio do bezerro pode variar de estado para estado e pode ser feito por meio de uma regra de três simples:

preço da @ do boi gordo — 100 %

preço da @ do bezerro — x %

x = preço da @ do bezerro * 100 / preço da @ do boi gordo

Segundo especialistas, o ágio pode chegar até 35%, sendo que acima disso há indicativos que gera prejuízo. Os preços do bezerro e do boi gordo podem ser acompanhados pelo Cepea.

3. Custo de produção e rentabilidade

O custo de produção é outro fator importante na tomada de decisão entre comprar bezerro ou boi magro. Considere os custos envolvidos em cada fase de produção, como alimentação, medicamentos, mão de obra, entre outros.

Além disso, é necessário avaliar a rentabilidade esperada em cada cenário.

A compra de bezerros, por exemplo, pode demandar um investimento inicial menor, mas requer um período mais longo de criação até ser encaminhado para a fase de recria.

4. Aspectos legais e sanitários

Antes de adquirir bezerros ou bois magros, é necessário verificar a procedência dos animais, certificar-se de que possuem documentação adequada, como notas fiscais, guia de transporte animal (GTA) e registros sanitários.

É importante garantir que os animais estejam livres de doenças e que estejam de acordo com as exigências sanitárias locais.

É preciso avaliar o histórico da matriz do animal, no caso de bezerros, pois matrizes que emprenham mais cedo, na época de monta, podem gerar bois mais saudáveis e com melhor potencial de carcaça.

Gestão e acompanhamento do investimento

A gestão e acompanhamento do investimento realizado na compra de bezerro ou boi magro é fundamental para o sucesso do negócio pecuário.

O monitoramento da evolução dos animais, o gerenciamento dos riscos e a busca por conhecimentos técnicos permitem ao pecuarista otimizar os resultados, mitigar os riscos e se manter competitivo no mercado.

A constante atualização e o acompanhamento próximo do rebanho são essenciais para tomar decisões embasadas e obter os melhores retornos financeiros e produtivos.

Monitore a evolução dos animais

É essencial acompanhar de perto a evolução dos animais adquiridos, independentemente se são bezerros ou bois magros. Isso inclui monitorar o ganho de peso, avaliar a saúde e o bem-estar dos animais, observar a conversão alimentar e identificar possíveis problemas de manejo.

O monitoramento regular permite detectar precocemente qualquer irregularidade ou doença, possibilitando ações corretivas rápidas.

Além disso, manter registros precisos dos dados dos animais auxilia na tomada de decisões futuras, como o momento ideal para o abate ou a seleção de reprodutores.

É preciso acompanhar a eficiência de crescimento do animal, que ocorre em função de duas características básicas: a taxa de ganho de peso e a composição dos tecidos depositados.

Do ponto de vista nutricional, o crescimento do animal pode ser abordado pela eficiência energética ou pela eficiência alimentar.

Assim, o nível nutricional e o manejo alimentar adotados afetam a taxa de crescimento, o tempo de acabamento, o peso e a proporção dos componentes da carcaça (músculo, gordura e ossos).

Gerencie os riscos

O negócio pecuário está sujeito a diversos riscos, como variações nos preços dos insumos, flutuações no mercado de carne, oscilações climáticas e doenças.

É importante que o pecuarista esteja preparado para lidar com esses riscos e adote estratégias de gerenciamento adequadas.

Isso pode envolver a diversificação do rebanho, a contratação de seguros pecuários, a adoção de boas práticas de manejo para prevenir doenças, a utilização de técnicas de conservação de forragem para enfrentar períodos de escassez de pasto, entre outras medidas.

O acompanhamento constante e a análise dos riscos permitem ao pecuarista tomar ações proativas para minimizar os impactos negativos. Uma ferramenta essencial para estas análises é um sistema de gestão rural, onde os dados da produção pecuária são analisados de forma automática. 

Busque conhecimentos técnicos

É fundamental que você esteja atualizado sobre as melhores práticas de manejo, nutrição, sanidade animal e genética.

Buscar capacitação por meio de cursos, workshops, palestras e troca de experiências com outros pecuaristas é fundamental para adquirir habilidades técnicas e estar ciente das novidades e tendências do setor.

Contar também com a orientação de profissionais especializados, como veterinários e zootecnistas, pode ser extremamente valioso na tomada de decisões e na adoção de estratégias mais eficientes.

Conclusão

A gestão da pecuária de corte exige que sejam tomadas decisões importantes em todas as etapas da produção: na cria, recria e engorda, sendo necessários cuidados específicos em cada uma delas para alcançar altos rendimentos.

No caso da compra de bezerro ou boi magro, há grandes diferenças entre a finalidade comercial de um e de outro, bem como o manejo a ser adotado, tanto nutricional quanto sanitário.

Como os valores do bezerro e do boi magro, assim como do boi gordo, são muito variáveis, por conta de diversos fatores de mercado, para fazer o investimento é preciso analisar preços atuais e futuros, tendo por base o ciclo da pecuária, que funciona como um regulador do mercado.

Outro ponto importante para se atentar, é o ágio do preço do bezerro em relação ao preço do boi gordo, que vai sinalizar se sua atividade está sendo rentável.

Mario Bittencourt

Analista de Copywriting da Perfarm, é jornalista e pós-graduado em Agricultura de Precisão e em Ciência de Dados. Faz mestrado em Agricultura de Precisão na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

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