O que é pecuária de corte?

Pecuária de corte: saiba tudo sobre o ramo em que o Brasil é líder de produção, além de destaque no desenvolvimento de sistemas sustentáveis

A pecuária de corte é uma atividade relativa à cria, recria e engorda de animais, de forma isolada ou em combinação, em áreas de pastagem ou em confinamento.

O principal objetivo da pecuária de corte é a produção de proteína animal para abastecer os mercados nacional e internacional, com destaque para a carne bovina.

Em relação à exportação, o Brasil é líder mundial: comercializa carne para diversos países, principalmente China, que em 2022 comprou 53,3% das 2,34 milhões de toneladas exportadas, segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).

Saiba neste artigo o que é pecuária de corte, como ela funciona, principais características e a importância de ter uma boa gestão para o sucesso na atividade. Boa leitura!

O que é e como funciona a pecuária de corte?

A pecuária de corte envolve a cria, recria e engorda de animais para produção de carne para o consumo humano e o aproveitamento comercial de subprodutos (ossos e couro).

A criação de bovinos é o principal ramo da pecuária de corte, o que faz com que o termo seja muitas vezes ligado à bovinocultura de corte.

Essa é uma das atividades agropecuárias mais antigas do Brasil, que começou com o abate apenas para o consumo próprio e em pouco tempo ganhou escala comercial.

A pecuária de corte funciona por meio do ciclo da pecuária, de grande importância para a formação de preços do boi gordo. O ciclo é dividido entre cria, recria e engorda.

A principal característica do ciclo da pecuária é a flutuação de preços, influenciada pela maior ou menor oferta de animais para o abate.

O ciclo já teve duração de até 8 anos (nascimento ao ponto de abate do animal), mas as técnicas e inovações no setor fizeram com que esse tempo fosse reduzido para até 4 anos.

Isso ocorreu por conta da redução do tempo de recria, normalmente de 30 meses e que foi reduzido para 12 meses em casos de novilhos precoces, além do menor tempo de abate: de 3 anos, caiu para 2 anos em sistema de criação intensiva.

Quais são os tipos de rebanho de corte?

No total, 16 raças de gado de corte são criadas no Brasil, sendo as principais as raças nelore, angus, limousin e brahman, segundo a Associação Brasileira de Criadores (ACB).

As raças nelore (originária da Índia) e angus (da Escócia) são as mais buscadas por pecuaristas e as mais valorizadas do mercado.

A raça nelore é a que mais recebe seleção para melhoria dos índices produtivos. Estima-se que mais de 80% do rebanho nacional seja nelore ou anelorado.

Dentre as características da raça angus, estão a qualidade da carne, com cobertura de gordura espessa e uniforme, além da alta fertilidade e facilidade de parto.

Sistemas de criação na pecuária de corte

Os sistemas de criação na pecuária de corte são divididos em três: sistema extensivo, semi-intensivo e intensivo.

Sistema extensivo

Nesse sistema, os animais são criados soltos em grandes espaços de pastagem, geralmente sem ter alimentação suplementar, o que faz levar mais tempo para chegar ao ponto de abate. É o sistema de criação de gado de corte mais tradicional do Brasil.

Sistema semi-intensivo

O animal fica solto em uma parte do tempo e confinado em outra. Nesse sistema, é possível balancear a alimentação, usar sal mineral nos cochos, fazer a vermifugação e deixar os animais presos à noite em locais com ração. Assim, eles ganham peso mais rápido.

Sistema intensivo

Usa-se menos  espaço, o aproveitando da melhor forma. As pastagens são adubadas e irrigadas, além da alimentação balanceada e sal mineral, os animais recebem suplementação alimentar. São usados animais de boa genética produtiva.

Fases de produção e manejo do gado de corte

As fases de produção e manejo do gado de corte são a cria, recria e engorda (ou terminação), que fazem parte do chamado ciclo da pecuária.

Cada fase é relativa a um tipo de criação e produto final: na cria, o produto final é o bezerro; na recria, o boi magro; e na engorda, o boi gordo.

Essas fases podem ocorrer em qualquer sistema de criação de gado de corte.

1. Na cria, são utilizadas matrizes (fêmeas) para produzir bezerros para o mercado nacional e internacional de proteína animal. Por isso, é uma das fases de maior atenção e investimentos altos em inovação e tecnologia, principalmente com seleção de reprodutores de boa genética, identificação precisa do cio da vaca, inseminação artificial em tempo fixo (IATF), acompanhamento da gestação, dentre outros.
2. A recria começa quando o animal está com entre 7 e 9 meses e pesando de 6 a 8 arrobas (1 arroba = 15 kg), tendo início a fase de recria, que vai da desmama até a engorda. Um dos pontos de atenção nessa fase é com o chamado ágil do bezerro, que é a diferença de preço entre a arroba do bezerro e a arroba do boi magro. O ágil não pode passar de 35%, pois, caso aconteça, representa prejuízo.
3. A engorda começa quando o animal (boi magro) está com 14 arrobas, e se faz necessária alimentação de qualidade para favorecer essa fase.

Deve-se ter atenção com o ciclo curto e maior giro de capital, alto custo nutricional e resultado final atrelado à genética do animal.

É de grande importância a compreensão sobre as fases de produção do gado e corte, pois o ciclo da pecuária é um dos reguladores do mercado.

Inclusive, propriedades rurais que fazem o ciclo da pecuária completo dependem muito menos do mercado.

Manejo nutricional e da alimentação

O manejo nutricional e da alimentação do gado de corte são realizados por meio de pastagens e da suplementação com vitaminas e sais minerais.

Em regiões onde as condições climáticas não são favoráveis, é preciso fazer o manejo complementar com rações, o que eleva o custo de produção.

Na alimentação do gado, devem fazer parte as proteínas, as gorduras, os açúcares, os minerais, as vitaminas e a água, em quantidades proporcionais, conforme o ciclo da pecuária.

Na fase de cria, é essencial alimentar o bezerro com o colostro, primeiro leite que sai da vaca após o parto. Pesquisas científicas apontam que o colostro é essencial para o bom desenvolvimento do animal.

Tenha atenção também à taxa de lotação para os bezerros, que varia conforme a propriedade rural e a quantidade de animais.

Quando o animal passa para a recria, ele precisa se adaptar a uma nova fonte de alimentos, que são as pastagens, a mistura mineral e a água.

Caso o clima não colabore para o bom desenvolvimento de pastagens, é importante que você dê ao gado alimentação suplementar, pois assim evita que ele perca peso.

O animal entra para a fase de terminação ou engorda quando chega aos 300 kg (peso vivo). Ele precisa ganhar musculatura e gordura até chegar aos 450 kg, quando pode ser abatido.

A depender do sistema de produção e das condições climáticas na área de pastagem, você pode conseguir fazer com que o animal esteja pronto para o abate em 3 anos. 

Cuidados sanitários na pecuária de corte

Os cuidados sanitários na pecuária de corte são relacionados ao saneamento, saúde e bem-estar animal, com a realização de uma série de ações voltadas para a erradicação e controle de doenças e enfermidades.

O manejo sanitário na pecuária de corte é basicamente a realização do controle de zoonoses no rebanho, para manter os animais saudáveis, com a prevenção de doenças.

Esse tipo de manejo é de extrema importância, pois apenas um caso suspeito de determinada doença ou confirmação de uma forma não grave pode criar barreiras para exportações de carne para outros países.

Nesse sentido, você precisa ficar atento às épocas de cada vacinação e aos animais que entram na fazenda, verificando sempre a Guia de Trânsito Animal (GTA), que traz informações sobre origem, destino, finalidade, espécie, vacinação, etc., de cada animal.

As principais doenças que afetam o gado e podem causar prejuízos econômicos ao setor ao nível nacional são: a Febre Aftosa, a Brucelose, a Babesiose, a Clostridiose e a EBB (Encefalopatia Espongiforme Bovina), conhecida como “mal da vaca louca”.

Alguns cuidados essenciais no manejo sanitário são:

• a recepção e a destinação dos animais para local de confinamento;
• identificação por meio de brincos ou chips, além do número do piquete de destino;
• a pesagem dos animais, que deve ser feita com regularidade;
• monitoramento do consumo de alimento e do ganho de peso;
• observar a qualidade da água fornecida, bem como das condições de higiene do bebedouro, que deve estar sempre limpo.

Além disso, o manejo sanitário inclui ainda atividades como limpeza do entorno e materiais utilizados no rebanho (instrumentos, ferramentas, vacinas, etc.) e local de armazenamento das rações.

Gestão na pecuária de corte

Para uma boa gestão na pecuária de corte, você deve criar um planejamento estratégico, pois assim será possível ter uma percepção melhor do seu negócio.

A bovinocultura de corte é uma atividade dinâmica e complexa e, por isso, você deve utilizar ferramentas gerenciais que te ajudem a saber de quanto é o lucro ou o prejuízo.

O planejamento é o passo inicial para uma boa gestão. Com ele, você direciona as ações prioritárias, controla o fluxo de caixa, pessoal necessário, tecnologias a serem utilizadas, monitoramento da pastagem, histórico climático, estoques e perspectivas de mercado.

As etapas importantes de uma gestão estratégica são:

• Determinação dos objetivos: é o principal ponto do planejamento, com definições genéricas e dos propósitos da empresa rural, pretensão futura, margem de lucro, segurança, prestígio social, dentre outros.
• Análise do ambiente interno: ao verificar o que já existe de disponível na propriedade rural, você pode evitar gastos desnecessários e investir no que realmente precisa. Para melhoria das pastagens, por exemplo, faça análises de solo antes de comprar adubos e fertilizantes. Verifique ainda sua gama de fornecedores e compradores;
• Análise do ambiente externo: o ponto de atenção aqui são as ameaças, oportunidades e restrições relacionadas aos cenários nacional e internacional, por  exemplo: a volatilidade do preço dos insumos, balança comercial, juros, taxas de importação e exportação. Por isso, faça análises de mercado (oferta e demanda) e de tendências futuras;
• Geração e avaliação das metas: a determinação das metas deve ser com base no que já existe na sua fazenda. Assim, você define melhor o que precisa ter de mão de obra qualificada, necessidades de benfeitorias (cercas, galpões, energia elétrica, etc.).

Análise por animal ou rebanho?

Tanto a análise por animal quanto a do rebanho são de grande importância para a gestão da pecuária de corte.

Assim, dados como ganho de peso, consumo diário de alimentação, manejo sanitário, natalidade de mortalidade, compra e comercialização precisam ser analisados.

A partir dessas informações e das análises, você desenvolve novas estratégias com vistas à melhoria do seu rebanho e ao aumento da lucratividade da sua fazenda.

Outros aspectos da gestão de gado de corte

Uma empresa rural bem gerida precisa de  análises cada vez mais assertivas. Para isso, é essencial uma boa gestão administrativa, contábil e financeira do negócio.

Elas te auxiliam no controle do fluxo de caixa, patrimônio e na apuração de resultados ao final de cada ano, bem como na categorização dos dados relativos a cada área, para posterior análise dos dados. 

As noções sobre contabilidade são de grande importância para a sua gestão e as ações relativas a ela devem ser realizadas por profissionais treinados e habilitados.

Como administrador, faça um acompanhamento de perto, até mesmo para o seu maior entendimento, por exemplo, sobre o patrimônio da fazenda, tendo em mente também que é importante separar o que é da pessoa física e o que é da jurídica.

Essa distinção facilita mais o entendimento sobre o seu lucro ou prejuízo ao final de um ano, bem como possibilita verificar recursos disponíveis para investimentos futuros, conforme novas necessidades vão surgindo, advindas das análises de dados realizadas.

Em relação à contabilidade da fazenda, é importante fazer análises sobre:

• Balanço patrimonial: é composto dos ativos e passivos. O ativo engloba os bens e direitos da empresa (positivo) e o passivo as obrigações com os terceiros;
• Bens da empresa rural: é dividido entre bens tangíveis (dinheiro, estoque, veículos, máquinas, etc.) e bens intangíveis (tudo que não é físico, como direito de marca, patente, etc.);
• Balanço de capital: é o montante financeiro disponível na empresa rural. Aqui entram os valores de dinheiro em espécie ou depositado em banco, além dos valores a receber e a pagar; 
• Custo de produção: é um dos principais parâmetros da avaliação sobre a rentabilidade e pode ser definido como a soma dos valores de todos os recursos (insumos e serviços) utilizados no processo produtivo (gastos, amortizações e taxas de juros).

Capacitação e treinamento de equipe

A capacitação e treinamento na pecuária de corte é essencial para garantir o bem-estar dos animais, a eficiência da produção e a segurança dos trabalhadores.

O deve seguir os seguintes passos:

1. Fornecer uma visão geral da indústria pecuária de corte, incluindo sua importância econômica, sistemas de produção e tendências atuais;
2. Instruções sobre técnicas de controle, manejo seguro e movimentação de animais, incluindo a demonstração de técnicas de manejo de cordas, ferramentas e equipamentos de manejo;
3. Explicar os princípios básicos de alimentação e nutrição do gado de corte, com os tipos de alimentos e a formulação de dietas equilibradas;
4. Devem ser falados os conceitos básicos de saúde e manejo sanitário do gado de corte, como vacinação, controle de parasitas, identificação de doenças comuns e medidas de biossegurança para prevenir a ocorrência de doenças;
5. Explicar os princípios do manejo reprodutivo, incluindo o ciclo reprodutivo, a detecção do cio e a inseminação artificial;
6. Instrução sobre a gestão adequada das pastagens, rotação, controle de invasoras e gerenciamento da qualidade da forragem;
7. Enfatizar a importância do bem-estar animal e ensinar como práticas corretas de manejo que promovem o conforto e a saúde dos animais;
8. Abordar aspectos de segurança no trabalho relacionados à pecuária de corte, incluindo o uso correto de equipamentos de proteção individual (EPIs), segurança de animais e prevenção de acidentes relacionados a máquinas e ferramentas.

Pecuária de corte sustentável é possível?

A pecuária de corte sustentável diz respeito à responsabilidade ambiental, social e de bem-estar animal, ao mesmo tempo em que se promove a sustentabilidade econômica, indo ao encontro das práticas de ESG no agronegócio.

Ela é tão possível que o Brasil já desenvolve práticas de pecuária sustentável há vários anos, tendo um novo impulso com a pecuária 4.0, caracteriza pela:

• utilização dispositivos eletrônicos de pesagem animal;
• colares com sensores que transmitem dados sobre banho de peso e condições de saúde;
• identificação automatizada do rebanho;
• monitoramento remoto da pastagem, bem como dos cochos e bebedouros;
• coleta e análise de dados de forma automatizada;
• uso de imagens de satélites e drones para identificação e contagem de animais;
• gestão da fazenda por meio de ferramentas digitais.

Diversas fazendas têm adotado essas tecnologias para o aperfeiçoamento da produção e maiores ganhos de produtividade, bem como aumento da sustentabilidade ambiental.

É do Brasil, inclusive, um dos sistemas mais sustentáveis de criação de gado de corte: o Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).

Sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF)

No agronegócio, o ILPF envolve a criação de gado para produção de carne ou leite na mesma área que a produção de grãos, fibras, madeira e energia, otimizando, assim, o espaço rural.

Nesse sistema, são cultivadas culturas anuais (soja, milho, feijão); silvicultura (eucaliptos) e espécies forrageiras; além da criação de animais. A combinação depende da fazenda.

O ILPF proporciona economia dos recursos naturais, de mão de obra e de insumos, bem como o bem-estar animal, por meio das sombra das árvores, o que reduz o estresse e a sede.

Estudos da Embrapa indicam que o ILPF ajuda a reduzir as emissões de gás carbônico na atmosfera por meio da fixação adicional de carbono na biomassa florestal e no solo.

O mercado de pecuária de corte no Brasil

O mercado de pecuária de corte é um dos mais promissores do Brasil, sobretudo em relação ao mercado externo, onde há uma demanda crescente por proteína animal.

No ano passado, o país obteve receita de US$ 13 bilhões com as exportações de carne, segundo dados do Ministério da Economia, aumento de 42% em relação a 2021.

Em 2023, de acordo com o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), o país deverá produzir 10,570 milhões de toneladas, com o abatimento de 43,420 milhões de bovinos.

Para este ano, a previsão do USDA é que o país exporte 3,012 milhões de toneladas de carne bovina. O consumo interno deve ficar em 7,594 milhões de toneladas.

Diversos fatores têm favorecido o desenvolvimento da pecuária de corte no Brasil, com destaque para o:

• melhoramento genético das raças, por meio de inseminação artificial;
• a nutrição animal, cada vez mais balanceada e controlada;
• o controle dos índices de natalidade e mortalidade;
• o abate precoce, feito hoje com o animal aos 3 anos de idade, na média – antes era de 5 anos;
• melhorias nas pastagens, com a introdução de forragens mais nutritivas e resistentes a pragas, doenças e às intempéries do clima;
• uso de tecnologias da chamada pecuária de precisão, que proporciona uma melhor gestão da fazenda por meio da análise de dados e do estabelecimento de estratégias.

Conclusão

A pecuária de corte, apesar de apresentar menos riscos do que a agricultura, é um sistema complexo que exige cada vez mais profissionalismo para manter a competitividade.

Investir em gestão digitalizada, inovação e tecnologia e métodos sustentáveis de produção podem fazer com que maiores lucros sejam obtidos na atividade.

É necessário e essencial a qualificação profissional de ponta a ponta na fazenda, de modo a garantir que o planejamento estratégico seja executado com eficiência.

O avanço da profissionalização das atividades na pecuária de corte é a chave para que o Brasil se mantenha cada vez mais competitivo e o setor seja exemplo para o mundo.

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