Deficiência nutricional do cafeeiro: como fazer o manejo

Deficiência nutricional do cafeeiro: veja os principais sintomas da ausência de cada nutriente, formas de correção e como fazer o monitoramento

Deficiência nutricional do cafeeiro (Foto: Embrapa)

Na cafeicultura, o manejo nutricional faz parte das atividades prioritárias para as espécies arábica e robusta, seja para a produção de café commodity, especial ou gourmet.

Assim, para garantir uma produção sustentável e de qualidade, é essencial conhecer os principais desafios relacionados à deficiência nutricional do cafeeiro.

Saiba neste artigo o que é a deficiência nutricional, como identificá-la e soluções para você fazer o balanço nutricional do cafeeiro. Boa leitura!

O que é a deficiência nutricional do cafeeiro?

A deficiência nutricional do cafeeiro refere-se à falta ou baixa disponibilidade de nutrientes fundamentais para o crescimento e desenvolvimento saudável da planta. Eles são divididos em macronutrientes e micronutrientes.

Os macronutrientes incluem o nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S), necessários em maiores quantidades.

Já os micronutrientes, compreendem elementos como ferro (Fe), manganês (Mn), zinco (Zn), cobre (Cu), boro (B), molibdênio (Mo) e cloro (Cl), exigidos em quantidades menores, porém igualmente essenciais para o desenvolvimento adequado do cafeeiro.

A deficiência de nutrientes pode ocorrer em razão de diversos fatores, tais como características do solo, práticas inadequadas de manejo, problemas de absorção de nutrientes pela planta (em razão da matocompetição ou de dificuldade de crescimento das raízes), falta de água e variações climáticas.

E uma deficiência nutricional mal diagnosticada, não tratada ou ainda manejada de forma incorreta pode levar a impactos negativos no desenvolvimento das plantas, queda na produção e, em casos extremos, a morte delas.

Uma planta sem nutrição adequada também facilita o desenvolvimento das doenças do cafeeiro, por conta da sua debilidade.

H2. Quais são os sintomas e como identificar a deficiência nutricional do cafeeiro?

Alguns sintomas incluem:

  1. Clorose: é um sintoma comum de deficiência nutricional, caracterizada pelo amarelecimento das folhas, geralmente começando nas folhas mais velhas. Em diferentes casos, pode indicar falta de nitrogênio, ferro, zinco ou manganês;
  2. Necrose: consiste na morte de tecidos vegetais, que pode se manifestar como bordas marrons ou queima nas folhas, sugerindo problemas de cálcio ou potássio, por exemplo;
  3. Má formação das folhas: quando a planta não recebe quantidades adequadas de boro ou manganês, por exemplo, pode ocorrer a formação irregular ou redução do tamanho das folhas;
  4. Redução no crescimento/desenvolvimento: uma deficiência geral de nutrientes pode levar a uma diminuição no crescimento da planta, fazendo com que ela não atinja seu potencial máximo.

Métodos para identificação:

  1. Sintomas específicos de micronutrientes: a identificação correta pode ser crucial para a abordagem adequada. A presença de sintomas como a “rosa-dos-ventos” (pontos rosados com centro claro) nas folhas pode indicar deficiência de zinco (Zn), enquanto manchas de bronzeamento nas bordas das folhas podem ser um sinal de deficiência de cobre (Cu);
  2. Análise do histórico de manejo e do solo: é importante revisar o histórico de manejo nutricional do solo de safras anteriores para entender o contexto da possível deficiência nutricional. A análise de solo periódica pode fornecer informações detalhadas sobre os níveis de nutrientes no solo, auxiliando no diagnóstico e no planejamento de correções adequadas;
  3. Análise foliar: pode ser utilizada tanto para orientar sobre a necessidade de reajustes na adubação de solo quanto para corrigir possíveis deficiências de micronutrientes na planta. O reajuste, no caso, é voltado para restabelecer relações ideais de nitrogênio e potássio durante o enchimento dos frutos (granação). 
  4. Observar o crescimento da planta: se a planta apresentar pouca ramificação, baixas quantidades de folhas e poucas flores e frutos, bem como atraso no ciclo de desenvolvimento, pode ser indício de deficiência nutricional;
  5. Auxílio de especialistas agrícolas: se os sintomas observados não forem conclusivos ou houver dúvidas na identificação da deficiência nutricional, é recomendável buscar a ajuda de especialistas agrícolas, como agrônomos ou técnicos agrícolas.

Veja os sintomas de deficiência de acordo com cada nutriente, conforme a Embrapa.

1. Deficiência de nitrogênio (N)

  • Sintomas: folhas mais velhas apresentam clorose (amarelecimento) a partir das margens para o centro. A planta pode apresentar crescimento lento e menor produção de folhas novas.

Sintomas da ausência de N começam nas folhas mais velhas (Foto: Embrapa)

  • Identificação: o sintoma clássico de clorose nas folhas mais velhas é o indicativo mais evidente de deficiência de nitrogênio no cafeeiro. Em períodos secos é preciso maior atenção, pois a deficiência de nitrogênio pode ser mais severa, já que a redução da umidade afeta a mineralização da matéria orgânica, principal fonte desse nutriente.

2.  Deficiência de fósforo (P)

Sintomas: assim como ocorre com o N, as folhas mais velhas exibem clorose e evoluem para um tom avermelhado ou roxo. O crescimento das plantas é retardado e os frutos têm desenvolvimento comprometido.

Deficiência de P no café (Foto: Embrapa)

  • Identificação: a clorose nas folhas mais velhas, especialmente quando associada a uma coloração avermelhada, é característica da deficiência de fósforo. Em casos extremos observam-se ainda manchas necróticas no limbo, distribuídas irregularmente.

3.  Deficiência de potássio (K)

  • Sintomas: margens das folhas mais velhas tornam-se necróticas e enrolam para cima. A planta apresenta crescimento reduzido e os frutos podem ter problemas de desenvolvimento. Em certos casos, observa-se a morte descendente dos ramos.

Planta com deficiência de K (Foto: Embrapa)

  • Identificação: a presença de necrose nas margens das folhas mais velhas, juntamente com o enrolamento delas, sugere deficiência de potássio. A análise de solo é fundamental para confirmar a carência desse nutriente.

4. Deficiência de cálcio (Ca)

  • Sintomas: pontos necróticos aparecem nas folhas mais novas, que podem também apresentar deformações. Começa nas margens e evolui para o centro. Em casos severos, ocorre a queda prematura dos frutos.

Sintoma de deficiência de Ca (Foto: Embrapa)

  • Identificação: a presença de pontos necróticos nas folhas mais novas é um indicativo da deficiência de cálcio.

5. Deficiência de magnésio (Mg)

  • Sintomas: as folhas mais velhas apresentam clorose internervural, ou seja, amarelecimento entre as nervuras, que permanecem verdes. O crescimento geral da planta é afetado. Pode ser observada necrose nas pontas das folhas, em caso de acentuação. Esse sintoma é iniciado nas folhas mais velhas e com o agravamento da deficiência pode atingir as mais novas.

Folha do café com sintoma de ausência de magnésio (Foto: Embrapa)

  • Identificação: a clorose internervural nas folhas mais velhas é característica da deficiência de magnésio no cafeeiro.

6. Deficiência de enxofre (S)

  • Sintomas: ocorre a clorose nas folhas mais novas, na forma de faixa larga que compreende a nervura principal e se estende até o meio da lâmina foliar, sendo isso reflexo da falta de clorofila nos cloroplastos (organelas celulares onde ocorre a fotossíntese).

Ausência de enxofre na folha de café (Foto: Embrapa)

  • Identificação: A clorose mais pronunciada nas folhas novas é um sinal típico da deficiência de enxofre.

7. Deficiência de ferro (Fe)

  • Sintomas: folhas jovens apresentam clorose generalizada, mas as nervuras permanecem verdes. O crescimento da planta é afetado, e os frutos podem não se desenvolver plenamente.

Folha com sintoma de deficiência de ferro (Foto: Embrapa)

  • Identificação: a clorose generalizada nas folhas jovens, com as nervuras verdes, é indicativa da deficiência de ferro. Pode ser necessária uma correção específica na forma de fertilizantes.

8. Deficiência de boro (B) 

Sintomas: os mais comuns são a paralisação do crescimento dos ramos; a morte de gemas terminais na ponta dos ramos e a excessiva brotação nos ápices das plantas, formando um aspecto de leque; as folhas podem ainda ficar deformadas, pequenas e retorcidas com bordas irregulares; o abortamento de flores e a morte das pontas das raízes também está sujeito a ocorrer.

Folha com ausência de boro (Foto: Embrapa)

  • Identificação: a má formação das folhas novas é um indicativo típico da deficiência de boro. Solos ácidos e pobres em matéria orgânica favorecem a deficiência de boro.

9. Deficiência de zinco (Zn)

  • Sintomas: os sintomas de deficiência são redução dos internódios, roseta de folhas nas pontas dos ramos, folhas pequenas, estreitas, de aspecto coriáceo e quebradiças; pode ocorrer ainda de os frutos ficarem menores e redução na produção. 

Planta do café com ausência de zinco (Foto: Embrapa)

10. Deficiência de manganês (Mn)

  • Sintomas: folhas novas apresentam clorose internervural, semelhante à deficiência de magnésio, mas com manchas escuras, necróticas ou enrugadas. Em estágio avançado as folhas apresentam clorose generalizada e aspecto amarelo-esbranquiçado. As folhas mais velhas caem com facilidade como também os frutos na fase cereja.

Folha do café com ausência de manganês (Foto: Embrapa)

  • Identificação: a clorose internervural, acompanhada de manchas escuras e necróticas, nas folhas novas, é característica da deficiência de manganês. A análise de solo é essencial para confirmar a carência desse nutriente.

11. Deficiência de cobre (Cu)

  • Sintomas: As folhas novas podem exibir clorose, especialmente entre as nervuras. Elas ficam onduladas na parte superior. Na evolução, a deficiência passa para as folhas mais velhas, que ficam encurvadas para baixo, apresentam a nervura central e a faixa próxima mais clara, meio esbranquiçada.

Folha com ausência de cobre (Foto: Embrapa)

  • Identificação: A clorose nas folhas novas, especialmente entre as nervuras, é um indicativo da deficiência de cobre no cafeeiro. A análise de solo pode ser realizada para confirmar essa carência.

Como resolver a deficiência nutricional do cafeeiro?

A correção da deficiência nutricional do cafeeiro requer uma abordagem cuidadosa e baseada em diagnósticos precisos, com orientação técnica.

Inicialmente, é importante realizar uma análise detalhada do solo para identificar quais nutrientes estão em falta e em que proporções.

Com essas informações, algumas estratégias podem ser adotadas:

  • Fertilização adequada: com base na análise do solo, é possível realizar a adubação balanceada, fornecendo os nutrientes que estão em falta e ajustando as proporções dos elementos;
  • Uso de fertilizantes foliares: a aplicação de fertilizantes diretamente nas folhas pode ser uma forma rápida e eficaz de fornecer nutrientes, especialmente em casos de deficiências agudas;
  • Práticas de manejo: além da adubação, é importante adotar práticas de manejo adequadas, como a cobertura morta, que melhora a saúde geral do solo e sua capacidade de fornecer nutrientes para as plantas;
  • Correção do pH do solo: em alguns casos, a acidez ou alcalinidade do solo pode afetar a disponibilidade de nutrientes para as plantas. A correção do pH pode ser necessária para melhorar a absorção dos nutrientes.

É importante ter sempre o acompanhamento de especialistas para que as doses necessárias de reposição de nutrientes sejam feitas da forma e no tempo certo.

Acompanhamento e monitoramento

O acompanhamento e monitoramento do estado nutricional do cafeeiro são fundamentais para garantir o desenvolvimento saudável e a alta produtividade da cultura.

A análise do solo é o ponto de partida para o acompanhamento nutricional do cafeeiro. Ela fornece informações sobre os teores de macronutrientes e micronutrientes presentes no solo, permitindo uma avaliação da fertilidade e das possíveis deficiências nutricionais.

Outra ferramenta importante é a análise foliar. Por meio dela, é possível verificar a concentração de nutrientes nas folhas, permitindo uma avaliação direta do suprimento de nutrientes para as plantas.

A coleta das folhas deve ser realizada em diferentes estágios de desenvolvimento da cultura, e as amostras também são enviadas para análise laboratorial. Com os resultados, é possível ajustar a adubação e corrigir possíveis deficiências identificadas.

As tecnologias de agricultura de precisão também ajudam na eficiência no manejo nutricional do café. O uso de sensores remotos, como imagens de satélite e drones equipados com sensores, por exemplo, tem se tornado uma prática cada vez mais comum para o monitoramento de lavouras.

Essas tecnologias permitem a obtenção de informações em larga escala e em tempo quase real, possibilitando a detecção precoce de variações no desenvolvimento das plantas e o mapeamento de áreas com possíveis deficiências nutricionais.

A análise de imagens pode ser combinada com sistemas de informações geográficas (SIG) para a elaboração de mapas de variabilidade espacial dos nutrientes e para a tomada de decisões mais precisas na aplicação de insumos.

Além disso, há aplicativos e softwares que podem ser usados para o acompanhamento nutricional do cafeeiro, sendo úteis para facilitar o registro e a análise dos dados coletados.

Conclusão

A deficiência nutricional do cafeeiro é um grande desafio para a cafeicultura, sendo necessária a reposição nutricional a cada safra.

Por meio de um diagnóstico preciso e da correta aplicação de adubos e fertilizantes, é possível superar esse obstáculo e garantir uma produção de qualidade e lucrativa.

O uso da análise de solo e foliar, bem como de tecnologias modernas, como sensores remotos, aplicativos e sistemas de monitoramento em tempo real, torna esse processo mais eficiente e confiável.


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Este conteúdo é de caráter educativo e informativo. Não deve ser interpretado como recomendação agronômica.

Mario Bittencourt

Analista de Copywriting da Perfarm, é jornalista e pós-graduado em Agricultura de Precisão e em Ciência de Dados. Faz mestrado em Agricultura de Precisão na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

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