Como plantar café: veja 8 dicas essenciais

Como plantar café: saiba quais são as variedades mais produtivas, espaçamentos, manejos, tecnologias, fatores de risco, rendimentos e mais

Como plantar café (Envato Elements)

O café é a segunda bebida mais consumida no mundo, perdendo apenas para a água.

Sua produção está cada vez mais sofisticada e rentável: somente com exportações, o café gerou receita de US$ 9,2 bilhões em 2022, um crescimento de 46,9%.

Assim, o café é uma boa oportunidade de rendimentos, principalmente com cafés de qualidade. Mas, para isso, é preciso saber como plantar café.

Por ser uma cultura perene, o café exige cuidados desde a implantação da lavoura, que deve ser bem planejada. Saiba tudo neste artigo. Boa leitura!

Como plantar café? Veja o passo a passo

O plantio de café deve ser feito com base em um planejamento técnico no qual devem constar diversos aspectos que influenciam no desenvolvimento da lavoura.

Além disso, por ser uma cultura perene e cada planta pode ter uma vida produtiva de cerca de 20 anos, erros cometidos na implantação dificilmente podem ser corrigidos.

Planejamento e principais cuidados no plantio do café

No plantio do café, devem ser levados em conta os seguintes aspectos:

  1. Escolha da área de produção (aptidão das terras, exposição ao sol, declividade);
  2. Preparo do terreno para o plantio (espaçamento e adubação);
  3. Escolha da espécie e variedade de café (arábica ou conilon);
  4. Sistema de produção (manual ou mecanizado; sequeiro ou irrigado);
  5. Tipo de produção (convencional ou orgânico);
  6. Planos de manejo (nutricional e fitossanitário);
  7. Infraestrutura (local para guardar máquinas e equipamentos, secagem e beneficiamento do café);
  8. Fatores de risco (mudanças climáticas, volatilidades do mercado);
  9. Tecnologias a serem utilizadas na gestão e em cada fase da produção.

Depois de tomar a decisão sobre como será a lavoura de café, é necessário realizar um planejamento ou plano de ação com prazos de execução de todas as atividades.

Os principais fatores para o sucesso são o conhecimento técnico e a gestão, que deve ser feita com o auxílio das tecnologias digitais.

Isso porque a gestão digital da fazenda permite que você controle melhor o fluxo de caixa rural e permita tomar decisões baseadas em análise de dados.

A partir dessas análises, é possível avaliar com mais assertividade o desenvolvimento da fazenda e aperfeiçoar as estratégias de forma contínua.

1. Escolha do terreno para plantar café

A escolha do terreno é o passo inicial para fazer o plantio de café. As espécies arábica (Coffea arabica) e conilon (Coffea canephora) são cultivados em regiões diferentes.

O conilon, conhecido como robusta ou canéfora, é plantado em áreas com até 500 metros de altitude. Já o arábica em terrenos com altitude entre 600 e 1.200 metros.

Por isso, na escolha do terreno, é necessário avaliar as características dos locais e da espécie.

Café conilon

  • Temperatura: 22º C a 26º C;
  • Precipitação anual: 600 mm a 1.500 mm; 
  • Solo: 1 metro de profundidade, textura e estrutura em boas condições.

Café arábica

  • Temperatura: 18º C a 23° C;
  • Precipitação anual: 1.200 mm a 1.800 mm;
  • Solo: profundidade de 1,2 metro, boas condições de textura e estrutura.

Outros aspectos que devem ser analisados são: as condições de ventos, umidade relativa, topografia, linha de geada, áreas de café erradicado, legislação ambiental e insolação. 

Para quebrar ventos, é importante ter árvores ao redor e dentro do cafezal.

Sobre a umidade relativa, é necessário ter atenção com a existência  de pragas e doenças, principalmente em cafezais próximos a represas e grotas sombreadas.

Em áreas com geadas, você deve verificar a linha imaginária que separa as áreas mais adequada ao plantio (com menos geada) das menos adequadas (de mais geada).

Em terrenos de cafés erradicados, tenha atenção com nematóides e outras pragas nas raízes. Siga a legislação ambiental e o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc).

Em áreas irrigadas, a produtividade pode aumentar ao observar o sol e organizar as linhas de plantio de uma forma que um pé de café não faça sombra em outro, aproveitando a luz pela manhã e tarde.

Porém, em áreas de sequeiro pode ser feito o sombreamento do café, já que é uma estratégia que tem dado certo em condições climáticas adversas, com secas prolongadas.

2. Espaçamento para o plantio de café

O espaçamento entre plantas e linhas para o plantio do café varia de acordo com o tipo de sistemas que será implantado: sequeiro ou irrigado; manual ou mecanizado.

É comum usar os seguintes espaçamentos para o plantio de café:

  • Conilon: entre 50 cm e 1 metro entre plantas, e 2 a 3 metros entre linhas;
  • Arábica: de 50 cm a 70 cm entre plantas de porte baixo e 70 cm a 1 metro para as de porte alto; entre linhas, de 2 a 3 metros.

Nas áreas irrigadas, tanto para o café conilon quanto para o arábica, é possível concentrar mais as plantas de café, colocando um espaçamento de 50 cm entre uma e outra.

No caso da distância entre as linhas de plantio, deve ser observado se no meio delas passarão máquinas ou não, considerando ainda a topografia do terreno. 

A escolha do espaçamento é uma das principais decisões a serem tomadas, pois após plantado o cafezal, só replantando para corrigir algum erro.

Assim, deve ser analisado como serão feitos os manejos de adubação e fitossanidade, além da colheita, se de forma manual, semimecanizada ou mecanizada.

3. Preparo do terreno para o plantio de café

A preparação do terreno para o plantio do café é iniciada com a limpeza da área. Nela, ocorre a retirada de vegetação rasteira, tocos e raízes que dificultam o trabalho de demarcação e abertura dos sulcos. Isso pode ser feito de forma manual ou mecanizada.

Em áreas não mecanizadas, é importante não ultrapassar 10 ha na divisão de talhões para facilitar o monitoramento da lavoura. áreas mais extensas, como as de pivô central, a divisão pode chegar a mais de 100 ha por talhão.

Para realizar a análise dos atributos químicos do solo é necessário fazer a  retirada de uma amostra de solo por hectare, sendo duas amostras de solo de cada local: uma de 0-20 cm e outra de 20-40 cm.

O ideal é que você faça uma amostragem em grade para aplicar corretivos de solo e adubos em taxa variável, seguindo a necessidade de cada parte do talhão.

Já a  calagem, deve ser feita no mínimo 90 dias antes do plantio, para elevar a 60% o índice de saturação de bases na camada de 20 cm do solo. Os maquinários utilizados na aplicação de insumos devem ser calibrados conforme a topografia de cada área.

No caso de inviabilidade de máquinas, a aplicação deve ser manual e em dose menor, geralmente a metade do recomendado. Em áreas aptas para tratores, a incorporação do corretivo ao solo ocorre por meio de aragem e gradagem.

Para o plantio, sulcos e covas não devem passar 40 cm de profundidade e as covas devem medir 40x40x40, totalizando um volume de 64 litros.

Na adubação, nutrientes como o cálcio e fósforo, devem estar misturados à terra que vai à cova ou sulco, em quantidades adequadas.

O plantio em áreas de sequeiro precisa ser feito pouco antes da época das chuvas.

4. Variedades para o plantio do café 

As variedades mais comerciais utilizadas para o plantio de café arábica são: Mundo Novo, Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo, além do Acaiá e do Icatu.

Para o plantio de café conilon, as mais recomendadas são as variedades Centenária, Diamante e Jequitibá.

Tanto para a espécie arábica quanto conilon existem variedades melhoradas, com mais produtividade, resistência a doenças e pragas e adaptadas às mudanças climáticas.

A escolha da variedade deve ser baseada nos seus objetivos de produção, sobretudo no que se refere ao tipo de mercado que se deseja alcançar e nível de tecnologia a ser adotada.

Um ponto importante na hora da escolha da variedade para o plantio do café é a verificação do seu registro no Ministério da Agricultura e a certificação do viveiro que comercializa as mudas ou sementes de café.

Qualidade das mudas para o plantio de café

Para o plantio de café, as mudas de café precisam atender aos padrões técnicos e normativos e ter as seguintes características:

  1. Serem produzidas em viveiros registrados;
  2. Apresentar desenvolvimento normal, com 3 a 6 folhas definitivas;
  3. Passarem por aclimatação por ao menos 30 dias;
  4. Serem livre de doenças como cercosporiose, rizoctoniose e nematóides;
  5. Terem no máximo 5% de “pião torto”.

Em áreas não irrigadas, as mudas devem ser plantadas na época do período chuvoso, que é no início do verão na maioria das regiões do Brasil – entre outubro e dezembro.

As mudas precisam ser regadas antes do plantio ou imersas em água, além de serem transportadas com cuidado, colocadas em caixas, para não prejudicar as raízes.

No plantio, as mudas devem ser colocadas ao nível do solo – nem muito fundas para não afogar o caule, e nem muito rasas para evitar a exposição do bloco e elas tombarem por ação dos ventos ou ainda serem ressecadas em épocas de período seco.

5. Sistemas de produção para o plantio de café

Os sistemas de produção de café são baseados nas características de cada lavoura e da finalidade que se busca alcançar em termos econômicos. Assim, é possível optar pelo plantio de café no sistema de manejo manual ou mecanizado; em sistema irrigado ou de sequeiro.

O sistema manual de produção de café geralmente é utilizado em pequenas propriedades, que, devido ao tamanho, possibilita exercer maior controle sobre a produção.

Em áreas de médias e grandes propriedades, a semimecanização ou mecanização são mais comuns de serem utilizadas por conta do ganho de eficiência e produtividade da lavoura.

Quanto aos sistemas de sequeiro ou irrigado, eles podem funcionar tanto para áreas de produção manual quanto mecanizada e, na hora da escolha de qual usar, a análise sobre a topografia do terreno é fundamental.

A partir disso serão definidos espaçamento e manejos de produção, levando em conta a disponibilidade de água e a pluviosidade anual, assim como a produtividade esperada.

 

6. Como fazer a irrigação do café

Para se desenvolver bem, uma planta de café necessita de 5 litros de água por dia, mas essa quantidade pode variar conforme a umidade do solo.

A irrigação do café é de grande importância, pois assim a planta pode aproveitar o seu potencial máximo produtivo, reduzir perdas e aumentar a produção. Isso porque, com a água, a planta aumenta o seu processo de fotossíntese, por meio do qual ela ganha maior quantidade de biomassa.

Outro benefício da irrigação, é que a planta é estimulada a ter florescimento mais homogêneo, o que favorece à maior produtividade e grãos de melhor qualidade. Dependendo de alguns manejos, é possível até antecipar a florada e a colheita.

A irrigação do café pode ser feita de 5 formas:

  1. Gotejamento: é feita de forma localizada, com grande precisão, mas de custo mais elevado;
  2. Pivô central: tipo de irrigação por aspersão, que pode ser utilizada também para a adubação foliar;
  3. Microaspersor: ocorre também de forma localizada e gera alto rendimento;
  4. Malha: forma mais simples de irrigação e de baixo custo de implantação;
  5. Tripas: de custo baixo, é um sistema de irrigação localizada.

Não é recomendado utilizar irrigação por canhão hidráulico na cafeicultura, pois, além do alto custo, gera desuniformidade na aplicação e desperdiça água.

Área de café conilon irrigada por sistema de gotejamento (Foto: Shutterstock)

O manejo da irrigação envolve três etapas:

  1. Definição da época e da lâmina a ser aplicada;
  2. Definição de metas de eficiência da aplicação da água e ajuste de funcionamento para atingir esses limites;
  3. Manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos para a sua plena atividade.

7. Adubação do café após o plantio

Na adubação de pós-plantio do café são de grande importância os macroelementos nitrogênio (N) e potássio (K), que precisam ser adicionados de forma parcelada, por conta da lixiviação e, no caso do N, da sua alta volatilidade.

Após o plantio, a adubação pode ser realizada entre 20 a 30 dias, desde que haja boas condições de umidade do solo e as mudas tenham bom pegamento, possibilitando às raízes alcançarem o solo além do bloco (cova ou sulco) do plantio.

A primeira adubação é feita nas proximidades do caule (10 cm), ao alcance das raízes.

Outros 2 ou três parcelamentos podem ser feitos até o final do período chuvoso, sempre mantendo a mesma distância do caule.

A escolha do adubo e suas quantidades seguem recomendações técnicas, lembrando que existem formulações nitrogenadas de maior eficiência que permitem apenas uma aplicação com maior eficiência na absorção, sem necessidade de parcelamento.

Outros elementos essenciais ao cafezal são os micronutrientes cobre, boro e zinco, cuja quantidade de adubação também precisa ser conforme a necessidade.

Em solos argilosos, o cobre e o zinco estão sujeitos à restrição de sua disponibilidade, quando adicionados via adubação. Por isso, é necessária complementação por meio de adubação via foliar, com 3 a 4 pulverizações por ano durante o período chuvoso.

8. Cuidados com a adubação após o plantio

Após o plantio e adubação, é necessário atenção com o cafezal durante os dois primeiros anos, devendo ser realizadas uma série de tratos para o bom desenvolvimento da lavoura.

Dentre eles, está a amostragem de solo, cujos procedimentos seguem recomendações específicas, tais como:

  1. Amostragem de solo após 60 dias a implantação;
  2. Profundidade da amostragem: 20 cm;
  3. Local: sob a saia do cafeeiro e fora dos limites da cova ou sulco, evitando-se, assim, resultados “contaminados” pela adubação residual do plantio.

Nesses dois primeiros anos, é preciso fazer a aplicação, sempre no período chuvoso, do nitrogênio e do potássio, em 3 a 4 parcelas.

Os insumos devem ser depositados na saia do cafeeiro, na superfície do solo, onde está a maior parte das raízes absorventes.

Recomendação para uso de corretivos e fertilizantes (Fonte das informações: Emater-MG)

Pesquisadores da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater) não recomendam a adubação de fósforo nos dois primeiros anos do cafezal, caso ela tenha sido feita de forma correta na implantação da lavoura.

Tratos culturais após o plantio do café

Os principais tratos culturais a serem realizados após o plantio do café são:

  1. Desbrotas: visa retirar ramos ortotrópicos (“ladrões”) e manter a arquitetura ideal – deve ser feita quando necessário, o mais cedo possível;
  2. Manejo de mato: tem por objetivo eliminar plantas daninhas que possam competir por nutrientes com o cafeeiro, devendo ter controle rigoroso, o que contribui para maior produtividade e redução dos custos de produção;
  3. Pragas: o bicho-mineiro e o ácaro são as principais preocupações, pois atrasam o crescimento de cafeeiros jovens. É preciso ter atenção também com cochonilhas, grilos, formigas-cortadeiras e outras pragas;
  4. Doenças: merece atenção a cercosporiose (“olho pardo” ou “olho de pombo”), pois gera desfolha e lesões nos ramos novos. O controle sistemático deve ser feito logo após o pegamento das mudas.

Quanto tempo leva para o pé de café começar a produzir?

A planta do café demora em média cerca de 3 anos para começar a produzir, dependendo da variedade utilizada e do sistema de produção.

Áreas com plantio irrigado, podem começar a produzir mais cedo e ter bom nível de produtividade, caso os outros manejos (adubação e controle de doenças e pragas) também sejam feitos da forma correta.

Na primeira colheita, o cafezal ainda não consegue demonstrar o seu potencial produtivo, o que só é possível a partir do 5º ano de produção, quando ele passa a ter maior desenvolvimento.

Contudo, é necessário realizar diversos manejos que envolvem a reposição de nutrientes do café, as podas e o controle fitossanitário.

Conclusão

O sucesso de uma lavoura perene, como é o caso do café, depende muito de como foi realizada a sua implantação e o sistema de produção.

Além disso, é necessário em cada fase da produção coletar e categorizar dados e informações que depois serão analisados e servirão para basear a tomada de decisões.

Analisar os dados da sua safra a cada ano é fundamental para que haja melhorias no seu sistema de produção e você obtenha maiores ganhos na atividade.

Assim, digitalizar a gestão da fazenda fará com que saiba onde os recursos estão sendo investidos e o retorno que eles estão trazendo. 

>> Fazenda digital: saiba como ela profissionaliza a sua gestão

Mario Bittencourt

Analista de Copywriting da Perfarm, é jornalista e pós-graduado em Agricultura de Precisão e em Ciência de Dados. Faz mestrado em Agricultura de Precisão na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

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