Nematóides: veja 4 principais e os métodos de controle
Presentes no solo e na água, os nematóides estão entre as pragas mais difíceis de controle na agricultura, sendo causadores de grandes prejuízos
Parasitas das raízes das plantas, os nematóides causam à agricultura brasileira prejuízos anuais de R$ 65 bilhões, sobretudo na soja, milho, café, algodão, cana e nos hortifrutis.
No Brasil, são 4 os nematóides que mais geram danos à lavoura: o nematóide das galhas, o de cisto, o das lesões radiculares e o reniforme, segundo a Embrapa.
Os nematóides são de difícil controle, mas sua atividade nociva pode ser reduzida com o uso de defensivos químicos e biológicos, associados a manejos específicos do solo.
Confira neste artigo métodos eficientes de combate aos principais nematóides. Boa leitura!
O que são os nematóides?
Os nematóides são um grupo de vermes de tamanho microscópico (0,3 a 3 mm) presentes no solo, água doce ou salgada, sendo parasitas de animais, insetos e plantas.
Nos solos agrícolas existe uma comunidade complexa de nematóides: segundo a Embrapa, já foram identificadas mais de 100 espécies, envolvendo cerca de 50 gêneros.
Alguns deles se alimentam de bactérias ou fungos, o que favorece a decomposição e a reciclagem de nutrientes. Outros são predadores e onívoros – de alimentação variada.
A maioria dos nematóides, no entanto, se alimenta das raízes das plantas, podendo causar doenças graves por conta da limitação que gera na absorção dos nutrientes pelos vegetais.
As larvas dos vermes penetram nos tecidos das raízes, formando “bolinhas”, e podem atingir outras partes das plantas, como folhas, flores e frutos, aumentando o dano.
Como consequência da ação dos nematóides, as plantas não conseguem absorver em quantidade suficiente água e nutrientes, o que reduz de forma significativa a produtividade.
O problema com os nematóides na agricultura brasileira tem sido tão grande que o mercado de nematicidas cresceu dez vezes, entre as safras de 2014/2015 e de 2021/2022.
De acordo com pesquisa da Kynetec, os nematóides estão presentes em todas as regiões do Brasil, mas é no Cerrado da região Centro Oeste que estão concentradas as vendas de soluções para combater os parasitas, com 82% das comercializações totais.
Isso porque a região do Centro Oeste é uma das principais do Brasil na produção de soja.
Outras lavouras com grandes perdas econômicas por conta dos nematóides são as de cana-de-açúcar, milho, algodão e café, além de outras 15 culturas.
O que os nematóides causam nas plantas?
Por conta da ação dos nematóides, as plantas ficam subdesenvolvidas, vindo a amarelar e murchar por conta da redução do seu poder de absorção da água e dos nutrientes.
Além disso, sob intenso ataque dos nematóides, as plantas podem apodrecer, devido à deformação das raízes, que ficam engrossadas com a presença dos nematóides.
Na agricultura, quando uma área da lavoura é atingida por nematóides, costuma-se chamar de “reboleiras”, onde as plantas danificadas apresentam menor crescimento.
Apesar de a atuação dos nematóides começar pelas raízes, os sintomas iniciais mais comuns podem ser observados na parte aérea das plantas, com o amarelamento.
Nas raízes, os danos observados podem variar conforme a espécie de nematóides.
Quais são as características dos nematóides?
Os nematóides possuem corpo cilíndrico, alongados e com extremidades afiladas.
Algumas espécies de fêmeas, no entanto, podem se assemelhar com o formato de um rim, maçã ou limão, sendo esta uma aparência incomum.
Diversos ambientes podem ser propícios para a sobrevivência dos nematóides, necessitando apenas que tenha água.
A maioria dos nematóides não resiste à falta de água ou às temperaturas extremas, mas algumas espécies conseguem resistir a essas situações por meses ou anos.
As formas mais comuns de propagação dos nematóides são por meio da água da irrigação, mudas produzidas em solos ou substratos infectados, máquinas e implementos agrícolas.
Além disso, animais e pessoas também podem levar esses vermes de um local para o outro por meio dos restos de terra contaminada que ficam nos cascos ou nos calçados.
Como se livrar de nematóides?
O controle total dos nematóides pode ser atingido à medida que são realizados manejos específicos do solo, visando ao aumento da sua biodiversidade e fertilidade.
De forma geral, o controle preventivo pode ser feito da seguinte forma:
- com a utilização de sementes e plantas sadias;
- manutenção constante do terreno, com limpeza da área – não deixar restos de cultura ou plantas daninhas;
- limpeza de ferramentas, maquinários e implementos agrícolas logo após o seu uso em campo;
- fortalecimento do solo com fornecimento de matéria orgânica, para elevação da microbiota;
- rotação de culturas, com a utilização de plantas que não hospedam determinado tipo de nematóide, o que pode levar o verme à morte por falta de alimento;
- e o uso de plantas antagonistas, as quais podem impedir o desenvolvimento dos nematóides por atuarem como repelentes ou liberar substâncias tóxicas aos vermes.
Os principais nematóides são os do gênero Meloidogyne spp. (galhas), Heterodera glycines (cisto), Pratylenchus brachyurus (lesões radiculares) e Rotylenchulus reniformis (reniforme).
Veja abaixo mais detalhes sobre cada um deles e os métodos de controle.
1. Nematóide das galhas
O nematóide das galhas aparece muito em áreas de soja, café e algodão.
O ideal para realizar o controle é identificá-lo antes da semeadura, sobretudo nas culturas anuais – se identificados durante a safra, nada pode ser feito.
Em primeiro lugar, deve-se identificar a espécie do gênero Meloidogyne predominante na área.
Devem ser coletadas amostras de solo e raízes com cerca de 200 gramas de terra e ao menos 5 sistemas radiculares, com envio ao laboratório de nematologia.
O envio das amostras deve ser acompanhado de um breve histórico da área.
Ao se conhecer a espécie, a recomendação é fazer a rotação ou sucessão com culturas resistentes ou más hospedeiras.
A rotação pode ser feita com cultivares resistentes de soja, algodão, milho e amendoim. Mas é importante verificar a viabilidade econômica das culturas para cada região.
A utilização de adubos verdes para fortalecimento da matéria orgânica também é essencial para maior eficiência do controle do nematóide das galhas.
Na adubação verde, pode ser utilizada a Crotalaria spectabilis, C. grantiana, C. murconata, C. paulinea, mucuna preta, mucuna cinza ou nabo forrageiro.
2. Nematóide de cisto
Os sintomas dos nematóides de cisto são, geralmente, o amarelecimento da parte aérea das plantas, que acabam morrendo. Também podem ocorrer as reboleiras.
Em solos mais férteis e regiões com boa distribuição de chuvas, a atenção deve ser maior, pois esses sintomas podem não aparecer.
Assim, o diagnóstico deve começar pela observação do sistema radicular, que numa planta parasitada começa a reduzir a partir dos 30 a 40 dias após a semeadura.
Raízes com nematóides de cisto apresentam minúsculas fêmeas em formato de limão alongado e coloração branca, que vai mudando para amarelo e marrom claro com o tempo.
Ao morrer, a fêmea se transforma numa estrutura de coloração marrom escura, denominada cisto, que se desprende da raiz e vai para o solo, podendo ser levada para outros locais.
Cada cisto contém, em média, 200 ovos. Cada ovo leva em seu interior um juvenil de segundo estádio que é a forma infectante do nematóide.
As áreas infectadas com o nematóide de cisto são praticamente impossíveis de haver o controle total, mas a rotação de culturas e o uso de cultivares resistentes auxilia a reduzir o dano – o ideal é utilizar esses dois métodos.
Estudos já mostraram, por exemplo, que na produção de soja, a substituição por espécies não hospedeiras (arroz, algodão, sorgo, mamona, milho e girassol) durante uma safra, foi possível o retorno da produtividade na safra seguinte.
Com um único cultivo de soja suscetível, o nível de nematóides de cisto volta a crescer.
Já com dois ou três safras seguidas de milho, é possível ter duas safras seguidas de soja, sem perda de rendimento.
Não é recomendada a rotação de culturas não deve ser substituída pela sucessão com o objetivo de reduzir a população do nematóide de cisto por apresentar ineficácia.
3. Nematóide das lesões radiculares
As plantas parasitadas pelo nematóide das lesões, geralmente, permanecem verdes, apesar de menores, nas reboleiras. Já as raízes, ficam escuras.
Para o controle, devem ser usadas espécies resistentes com fatores de reprodução menor que 1, a exemplo das crotalárias, que devem ser preferidas para a semeadura em áreas infestadas.
Aveia, milho, milheto, girassol, cana, algodão e amendoim não são recomendadas porque podem ser parasitadas pelo nematóide das lesões.
Na ausência de espécies resistentes, devem ser utilizadas cultivares de genótipos com fator de reprodução menores, o que evita a multiplicação desse nematóide.
No caso do uso de uma cultivar de soja mais resistente, ela deve ser precedida da utilização de pelo menos um ano de rotação com uma espécie de vegetal não hospedeira.
4. Nematóide reniforme
Encontrado principalmente no algodão, o nematóide reniforme faz com que a planta fique subdesenvolvida, com a ocorrência de reboleiras, sendo a sua maior ocorrência em áreas com solos pobres em minerais ou compactados.
O parasita faz com que a raiz fique pouco desenvolvida. O nematóide reniforme é predominante em solos argilosos, mas pode ocorrer também em solos de textura arenosa.
O controle pode ter eficácia com a rotação/sucessão de culturas e a utilização de cultivares resistentes.
Milho, arroz, amendoim e braquiária (para utilização num esquema de integração lavoura- pecuária-floresta) são resistentes e podem ser utilizados na rotação com a soja ou algodão.
Amaranto e quinoa devem ser evitados porque são suscetíveis ao nematóide reniforme.
Como usar a Perfarm para monitorar os nematóides
No sistema da Perfarm, é possível monitorar os dados sobre os nematóides por meio da atividade de controle de pragas e doenças.
Nele, você insere as informações sobre o que foi encontrado em sua lavoura, pessoas que estavam presentes em campo e produtos químicos ou biológicos utilizados no controle.
É possível ainda inserir imagens da área afetada e registrar no sistema da Perfarm.
Na aba sobre o custo financeiro do seu agronegócio, é possível inserir informações sobre as áreas que têm problemas com nematóides, já que elas possivelmente vão gerar algum impacto na produtividade da lavoura, bem como gerar custo para realizar o controle.
Você pode visualizar melhor esse custo e fazer análises mais precisas do seu negócio por meio dos indicadores de uma produção e por meio da geração de uma DRE (Demonstração de Resultado do Exercício) detalhada.
Fale com nossos consultores e veja mais detalhes.
Conclusão
O controle de pragas e doenças está entre as principais preocupações da produção agrícola, sendo um dos que mais geram custos ao produtor rural.
Para ter sucesso no controle, são necessárias avaliações eficientes sobre as áreas de produção, com o uso de tecnologias de agricultura de precisão e digital.
Além disso, é essencial a realização de manejos que possam complementar a utilização de produtos químicos ou biológicos para o maior controle.
No caso dos nematóides, é necessário ainda conhecer o tipo de solo da área de produção e a espécie do nematóide para que as soluções possam ser as mais adequadas possíveis.
>> Tem dúvida sobre que manejo utilizar para combater os nematóides? Deixe seu comentário!
Gostei muito do artigo sobre nematóides, pois em uma de minhas propriedades tenho uma área de 3 a 5 alqueires que estão com este problema, uma das indicações que recebi foi a de que deveria plantar uma braquiária, depois um agrônomo informou que a braquiária era um hospedeiro do nematóide e indicou a plantação do milheto. Esta matéria entendi que é necessário identificar o tipo de nematóide para então decidir o que utilizar. Foi ótimo e muito esclarecedora esta matéria.
Olá, sr. Eder, é isso mesmo. A identificação do tipo de nematóide é essencial para o manejo. Muito grato pela leitura e pelo seu comentário, abraço!