Defensivos biológicos: o que são e 3 formas de usá-los na lavoura

Os defensivos biológicos são criados a partir de microrganismos ou substâncias naturais predadoras de pragas; seu uso é seguro e crescente

Defensivos biológicos (Envato Elements)

A receita total com a venda de defensivos em 2022 no Brasil foi de R$ 83,6 bilhões, sendo 96% oriundos da comercialização de produtos químicos e 4% dos biológicos.

Os dados são de uma pesquisa da Kynetec, segundo a qual em 2015 os biológicos representavam só 1% da fatia de mercado, o que mostra aumento do uso desses produtos.

No Brasil, os defensivos biológicos fazem parte do MIP (Manejo Integrado de Pragas) e são uma importante alternativa sustentável para combater doenças e pragas na lavoura e na pecuária.

Sua eficácia, no entanto, depende da forma como são utilizados, devendo sempre prezar pelas relações ecológicas que caracterizam o controle biológico. Saiba mais neste artigo!

Quais são os defensivos biológicos?

Defensivos biológicos são produtos desenvolvidos à base de substâncias ou organismos naturais, considerados ativos biológicos: fungos, bactérias, vírus, extratos de plantas, insetos benéficos e parasitóides.

Décadas de pesquisa têm elevado a confiança no uso desses produtos no agronegócio, sendo importantes alternativas no combate às pragas e doenças na agricultura e pecuária.

A busca advém não só de questões econômicas, já que a maioria dos produtos químicos são importados e comprados em dólar, mas também ambientais e de segurança alimentar.

É cada vez maior a cobrança da sociedade, organismos internacionais e de investidores em empresas do agronegócio por práticas que promovam a sustentabilidade ambiental e a produção de alimentos saudáveis e de qualidade.

A fabricação de produtos de controle biológico, bem como o aperfeiçoamento dos métodos, com tecnologias avançadas, atraem não só pesquisadores e empresas de pequeno e médio porte, mas as grandes empresas de produtos químicos.

Segundo o Ministério da Agricultura, os defensivos biológicos podem ser utilizados em qualquer cultura, desde frutas e verduras, até grãos, dentre outros.

O mercado de produtos biológicos faturou R$ 3 bilhões em 2022, com crescimento de quase 40% nos ciclos agrícolas mais recentes, de acordo com a Kynetec.

Besouro na lavoura de batata (Envato Elements)

Pesquisa da McKinsey mostrou que o Brasil é o país que mais usa produtos biológicos para controlar pragas e doenças, e auxiliar no crescimento das plantas e fertilização dos solos.

Ao menos 55% dos produtores brasileiros já adotaram produtos biológicos, enquanto na União Europeia é de 23%, 8% na China, 6% nos Estados Unidos, 5% no Canadá, 4% na Argentina e 3% na Índia.

A pesquisa mostrou ainda que todos os agricultores brasileiros entrevistados já ouviram falar dos defensivos biológicos, enquanto o assunto é desconhecido por 62% dos chineses e por 34% dos americanos.

Porque utilizar produtos biológicos?

Os produtos biológicos são uma oportunidade de aumentar a produtividade da lavoura e a qualidade dos alimentos, ao mesmo tempo em que se promove a sustentabilidade ambiental, por meio da redução de produtos químicos.

Antes de irem para comercialização, eles passam por pesquisas científicas diversas e precisam ser autorizados pelo Ministério da Agricultura, que realiza vários testes com o objetivo de comprovar a finalidade.

Assim, o uso dos produtos de controle biológico são de uso seguro, devendo a sua maior eficácia ser testada em campo, onde outras variáveis agronômicas podem interferir no seu melhor ou pior resultado.

Uma vantagem do uso dos defensivos biológicos hoje em dia, em relação há dez anos, é que antes havia média de apenas dois novos produtos registrados por ano no país.

Esse panorama vem mudando: somente em 2021, foram 87 registros e atualmente há mais de 500 produtos biológicos disponíveis no mercado.

Como saber se um produto é biológico?

Para saber se um produto é biológico são realizadas pesquisas científicas, cujas etapas são as seguintes, segundo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que ao longo dos anos tem realizado diversas pesquisas sobre o assunto:

  1. levantamento e coleta de inimigos naturais no meio ambiente;
  2. desenvolvimento de processos de isolamento, identificação, caracterização e avaliação da eficiência com agentes de controle biológico;
  3. criação de produtos à base de agentes de controle biológico, cuja eficiência em campo e segurança biológica são avaliadas.

De acordo com a Embrapa, alguns estudos são realizados em parcerias com instituições públicas e privadas, além de envolver também ações de manejo de agroecossistemas, de modo a favorecer os inimigos naturais ali já existentes.

Cientistas durante pesquisas com agentes biológicos (Foto: Envato Elements)

3 tipos de controle biológico e como usá-los

Existem 3 tipos de controle biológico: por importação, conservativo e aumentativo.

O controle biológico se caracteriza por relações ecológicas que envolvem a competição do homem com as pragas por recursos naturais (plantas cultivadas e produção agrícola) e a presença do agente de controle biológico como aliado do homem e inimigo da praga.

Veja mais detalhes sobre cada um deles e como utilizá-los.

1. Controle biológico por importação

O controle biológico por importação se refere a um método utilizado para combater pragas consideradas exóticas, introduzidas em uma nova região. Esse método é conhecido também como controle biológico clássico.

Por não serem naturais do meio onde estão, é necessário que inimigos naturais que também não são da área onde a praga está atuando sejam introduzidos, de modo a combatê-la.

Identificada a praga, os inimigos naturais são coletados, selecionados e enviados para o país que a praga invadiu, sendo liberados no meio ambiente somente depois de sujeitos a quarentena e avaliação de riscos à biodiversidade em laboratórios credenciados pelo Mapa.

2. Controle biológico conservativo

Baseia-se no entendimento de que os agroecossistemas podem ser manejados com o objetivo de preservar e aumentar as populações de inimigos naturais, gerando, assim, o controle da praga.

Nesse método, são usadas iscas para atrair as pragas ao agroecossistema, a exemplo de presas e alimentos alternativos (carboidratos, néctar e melato, proteínas, pólen).

Além disso, é preciso também criar e manter locais de refúgio que, além de moderar as condições físicas do ambiente, protejam os parasitoides e predadores dos seus inimigos naturais.

Uma boa prática agrícola que favorece ao controle biológico conservativo é a rotação de culturas, com o uso de guandu e da crotalária como adubo verde. Pesquisas da Embrapa mostram que elas ajudam a atrair inimigos naturais de pragas em lavouras de milho.

Veja abaixo exemplos de plantas fornecedoras de recursos para inimigos naturais, avaliadas experimentalmente e que podem ser usadas em diferentes práticas agrícolas.

Espécies que podem ser utilizadas no controle de pragas (Reprodução: Embrapa)

Essas plantas podem ser integradas espacialmente e temporalmente aos agroecossistemas para favorecer aos inimigos naturais, sendo, ao mesmo tempo, funcionais e de fácil implantação.

3. Controle biológico aumentativo

Esse tipo de controle biológico é utilizado quando os inimigos naturais que ocorrem no agroecossistema não fornecem o nível de controle desejado de determinada praga.

O aumento é feito por liberações do agente de controle biológico por meio das táticas inoculativa e inundativa, sendo o mais comum a produção em massa do inimigo natural em laboratórios especializados.

Essa estratégia de controle biológico é a mais apropriada para quando o agente é um microrganismo e é muito adotada no Brasil para controlar artrópodes e doenças em plantas.

O aumento de inimigos naturais tem sido bem-sucedido quando o inimigo natural é possível de produção em massa. Nessa estratégia, são feitas liberações/aplicações em certos períodos do ciclo da praga-alvo e/ou ciclo da cultura.

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Conclusão

O controle de doenças e pragas no agronegócio, em especial na agricultura, é um dos fatores de maior preocupação para o desenvolvimento do setor.

Por isso, novos métodos de controle, a exemplo dos defensivos biológicos, aliado ao uso de tecnologias eficientes, devem estar sempre no seu radar para uso em sua lavoura.

Deve ser feita análise detalhada sobre qual produto utilizar e o método.

Práticas agrícolas sustentáveis, como a rotação de culturas, são essenciais para que haja maior controle de pragas e doenças, além de colaborar com a produtividade do solo e a maior eficiência dos defensivos biológicos.

>> Você já usa os defensivos biológicos em sua fazenda? Conte como está sendo sua experiência!

Mario Bittencourt

Analista de Copywriting da Perfarm, é jornalista e pós-graduado em Agricultura de Precisão e em Ciência de Dados. Faz mestrado em Agricultura de Precisão na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

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