Gestão: reduzindo conflitos, aumentando patrimônio e valor da produção

– Por Túlio Lelis (Especialista Perfarm) e Perfarm

Quando pensamos na adoção de ferramentas e tecnologias de maior controle operacional e gerencial para o nosso negócio rural, espera-se que este controle traga maior profissionalismo, organização e que auxilie na rotina e na tomada de decisões, o que é de suma importância. Porém, existem diversos outros benefícios que à primeira vista não ficam tão evidenciados. Seja pelo desconhecimento da real importância, da potencialidade e efeito transformador que a informação possui, ou pelo negócio ainda se encontrar em um estágio de amadurecimento primário neste campo. Buscamos neste artigo evidenciar alguns destes benefícios, que são tão importantes, quanto aqueles provenientes diretamente do uso da tecnologia.

1 – Diminuição de conflitos entre sócios e familiares:

O primeiro ponto aqui exposto por si só, já justificaria todo o esforço para um controle pleno de nosso negócio rural, a diminuição de conflitos entre familiares ou sócios de uma empresa. O que ocorre é que o desconhecimento e a falta de informações geram desconfiança e tensão em todos os níveis da governança, e que podem ser desastrosos quando ocorrem no topo desta estrutura.

São muitos os potencias fatores geradores de conflitos internos:

  • sócios ativos e atuantes, bem como outros não tão ativos e não tão atuantes dentro da empresa;
  • divergências de prioridades e linhas de atuação;
  • segmentação por atividade de atuação (administrativa e operacional);
  • atuação de filhos e familiares de uma ou outra parte familiar;
  • distância geográfica entre as propriedades e unidades de produção.

O planejamento, controle e o compartilhamento dessas informações no dia a dia e em reuniões de “prestação de contas” acalmam os ânimos, ampliam a visão do negócio, geram uma atuação sinérgica e profissionalizam a gestão. Tudo isso faz com que o “achismo”, a pessoalidade, desconfiança e pontos de ruptura sejam dissipados ou amenizados. Também contribui para que a colaboração e trabalho em equipe estejam cada vez mais presentes e estimulados.

A informação e relatórios gerenciais servem como referência até nos casos de divisão do patrimônio, por divisão de espólio ou por decisão interna. Evita-se assim que ocorra uma divisão precipitada ou em momento inadequado, o que pode ser desastroso para todos os envolvidos, pelo enfraquecimento do complexo da produção e inteligência do negócio. E quando da decisão efetiva desta divisão, diminuem as chances dos envolvidos se sentirem injustiçados, novamente trazendo clareza e realismo a todo o processo.

2 – Diminuição de conflitos entre colaboradores:

Além de conflitos entre sócios, outros muitos conflitos que normalmente geram insatisfações entre funcionário e empregador, podem ser minimizados quando adotamos ferramentas de controle e gestão. Embora funcionários, em um primeiro momento, possam se mostrar reticentes em relação a sistemas de tecnologia da informação, essas ferramentas também trabalham ao lado e a favor deles.

Aqui entra aquele velho ditado: “o combinado não sai caro”. Ao planejar, coordenar, controlar e levar a informação ao colaborador de tudo aquilo que circunda suas atividades, alinham-se as expectativas entre a empresa e o funcionário. Somente a partir da informação inteiramente disponível, é possível determinar objetivos, indicadores de performance e iniciar programas de remuneração por performance.

Ao estabelecer a informação como cultura da empresa, fica claro para todos funcionários nela inseridos a forma de trabalho e o que é esperado de cada um deles desde o início dos seus trabalhos. Se bem utilizado, o controle junto a outras estratégias de governança, aumentará a produtividade e remuneração de funcionários, bem como a produtividade e lucros da empresa, gerando um ganha-ganha para todos.

3 – Informação como patrimônio a ser deixado:

Aqui um ponto de extrema relevância a ser considerado. Vamos pensar em duas propriedades rurais. Estão em regiões semelhantes e apresentam produção agrícola e pecuária equivalentes do ponto de vista de tamanho e culturas praticadas. Uma delas, porém, apresenta nível de informação, desde inventário, controle financeiro, produtivo e processos, gestão de documentos e com um planejamento definido, enquanto que a outra sem nenhuma referência de informação.

Essa inteligência efetivamente é um patrimônio, com valor econômico, da mesma forma como a terra, máquinas, galpões, pastagens, e cercas. O tempo, os recursos, a capacitação do material humano empregados para se alcançar esta inteligência, e que permitem a integração do processo produtivo, não devem ser desprezados como patrimônio. É um grande erro desprezá-los, mesmo que não seja um ativo, ou um material tangível.

Grandes marcas do mercado, desconsiderando toda estrutura envolvida, como fábricas, recursos humanos, tecnólogicos, dentre outros, valem bilhões de dólares por si só.

Por exemplo, se estivéssemos buscando comprar uma propriedade, e tivéssemos as duas propriedades citadas acima, quais delas sentiríamos maior segurança em investir nosso dinheiro? Como você valoraria cada uma delas? Você investiria naquela que sabemos e entendemos qual o seu potencial produtivo e situação financeira, que rapidamente poderíamos estar no controle do negócio e onde já existe uma cultura voltada à busca da qualidade e padronização e compartilhamento das informações? Ou investiria naquela que vemos apenas as benfeitorias, mas ainda temos que percorrer um longo caminho para realmente entender e visualizar o que estou comprando, um longo caminho na capacitação e treinamento de colaboradores, um longo caminho na implantação e padronização de sistemas e processos?

Desta forma a inteligência é sem dúvida um patrimônio a ser considerado, e até um legado que os empresários rurais devem trabalhar para construir e transferir às próximas gerações.

4 – Gerando valor, produzindo o mesmo:

Grande parte dos produtos advindos da produção agrícola primária são commodities, ou seja, configuram produtos homogêneos e sem diferenciação. São muito semelhantes entre os diversos produtores, e a agregação de valor pelo grau de diferenciação do produto é muito pequena. Isso traz uma percepção equivocada, de que a forma como se produz, o controle aplicado, a capacidade de inovação e a adoção de novas tecnologias e processos, não serão devidamente remunerados pelo comprador final. Esta é uma conclusão errônea, visto que atualmente são diversas as possibilidades de remuneração adicional fruto da diferenciação no processo produtivo, ainda que os produtos finais sejam semelhantes.

Além da gestão da informação ser o catalizador para aumento da produtividade, ela garante que o processo produtivo seja reconhecido por aquele que compra o produto. Além de apontar, corrigir, monitora e aperfeiçoar os métodos, insumos, rotinas, capital humano entre outros, na busca de uma maior eficiência, a informação bem gerida transmite ao mercado comprador maior confiabilidade nos processos produtivos e aderência a certas práticas exigidas pelos consumidores.

É muito importante para comparação com outros sistemas produtivos (concorrentes). Garante o aprendizado de como eles estão fazendo, e de como aplicar melhorias identificadas para a obtenção dos melhores resultados, de forma mais dinâmica à realidade de nosso negócio, inclusive revendo as práticas e metas adotadas.

Em suma, a informação funciona como um termômetro, capaz de soar o alerta, frente a variações mínimas de temperatura para cima ou para baixo, nos mantendo sempre alertas e competitivos.

Percebemos, desta forma, que a aplicação de tecnologias e processos de gestão da produção e da informação não são meros acessórios dentro do contexto da produção agropecuária. Representam o eixo central, para onde conflui toda a inteligência da produção, as quais são processadas, analisadas e depois retornam de forma a potencializar a produtividade e os lucros da empresa rural.

Torna-se ainda mais essencial na medida que:

  • homogeniza análises e os resultados;
  • diminui a desconfiança e ansiedade;
  • padroniza processos e operações:
  • difunde a cultura do aprendizado e compartilhamento de informações;
  • institui a meritocracia e a tomada de decisões referenciadas por dados internos e da concorrência;
  • valoriza e qualifica o patrimônio;
  • aumenta a competitividade do negócio.

 

Túlio Soares Lelis – Blue Farm 15/05/2017 – Brasília DF

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