Custo financeiro de carregamento de estoque

Diversos produtos agrícolas e pecuários, sejam estes insumos ou produtos acabados, são frequentemente armazenados por produtores e empresas do setor. Esta prática, que é muito comum, pode trazer muitos benefícios estratégicos ao agronegócio, contudo também pode diminuir as margens uma vez que, recorrentemente, custos financeiros de carregamento de estoque são negligenciados na operação.

 O custo de armazenagem

Existem muitos tipos de produtos e métodos de armazenamento, o que definitivamente influencia nos custos de armazenagem. A questão é que independentemente destes aspectos, custos financeiros de armazenagem estão sempre presentes e são corriqueiramente negligenciados, quando a atividade é praticada.

Os custos relacionados ao armazenamento podem ser classificados em duas categorias: diretos e financeiros. Os custos diretos de armazenagem são facilmente identificados e normalmente incluídos na conta, como: energia elétrica utilizada (seja para refrigeração ou secagem, por exemplo), custos de elevação, custos de montagem de ensilagem, manutenções preventivas ou reparos, entre outros. Custos diretos são difíceis de serem esquecidos, visto que normalmente representam uma saída de dinheiro ao pagamento.

Contudo, quando partimos para segunda categoria de custos, os custos financeiros, comumente notamos negligência por parte de produtores rurais. Custos financeiros se resumem basicamente em custo de capital, que por sua vez abrange os custos de oportunidade, e refletem os custos de se manter dinheiro (produtos) parado, representados pelo valor financeiro do estoque.

 Estoque parado custa?

Estoques, portanto, carregam consigo custos financeiros, e sim incorrem custos que diminuem margens no final das contas. Ao deixar o estoque parado, o valor financeiro referente ao produto em questão também está parado, quando poderia estar aplicado em outra atividade (relacionada ou não ao agronegócio) rendendo juros ao produtor. O dinheiro ou capital tem custo, como sempre reforçamos.

Na atual situação brasileira, a taxa SELIC está em torno de 12%, ou seja, a cada mês de armazenamento o produtor indiretamente está abrindo mão (ou pagando) de pelo menos 1% de juros ao montante de capital armazenado. A justificativa para isso geralmente é a espera por melhores preços, o que nem sempre se concretiza. É comum a alta volatilidade de diversas commodities comprometer o agronegócio em questão por conta da espera por preços maiores (ou menores, no caso de insumos), que muitas vezes não se realiza.

Tal situação é frequentemente observada na pecuária de corte brasileira. Muitos invernistas acabam deixando o gado no pasto mais tempo do que deveriam, esperando que o preço da arroba suba. Animais engordando representam semoventes, ou estoque de animais que poderia ser liquidado a qualquer momento, neste caso. Se considerarmos um animal de 15@ com acabamento suficiente para abate e o preço da arroba a R$145,00, estamos falando de um valor financeiro de R$2175,00 (considerando rendimento de carcaça de 50%). No primeiro mês, o custo financeiro de carregamento desse estoque é de R$ 21,75 por animal, ou seja de R$ 1,45 por arroba.

O mesmo se aplica ao cálculo impreciso da utilização de insumos, que forçam o produtor a ter que custear o carregamento de estoque de um ano para outro. É esse o caso de sementes, adubos, ou uma silagem comprada ou feita além do necessário.

Carregamento de estoque

 A decisão de armazenar

Discutimos acima quais sãos os custos financeiros de carregamento de estoque. É claro que sabemos que no agronegócio a armazenagem de produtos (insumos e produtos acabados) muitas vezes garante vantagens estratégicas, como melhores preços de compras e vendas, visto que existe uma volatilidade considerável de preços. Portanto, deve-se ter em mente que os benefícios devem ser comparados aos custos de armazenamento, incluindo os seus custos indiretos, assim como os impactos que este pode ter na operação como um todo. No exemplo da pecuária ilustrado: será que o preço da arroba sobe, de um mês para o outro, em igual proporção ao custo de carregamento do estoque, ou de animais no caso (desconsiderando eventuais ganhos de peso e custos adicionais de produção)?

 

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