Análise por safra: 10 características da tragédia anunciada da sua gestão

A busca pela lucratividade no campo inclui diversos fatores porém, a análise por safra pode ser um dos fatores contrários a ela.

Dentre os principais, encontra-se a correta transformação de dados em tomadas de decisões acertadas.  A maneira como coleta e analisa os dados tem papel fundamental neste processo.

Análises de dados tendo a safra como base analítica, ainda que seja um produto agrícola, apresentam diversas limitações que merecem ponderamento. O contínuo monitoramento e processamento por essa via pode trazer desafios futuros para sua gestão e prejudicar sua base de dados para futuras referências.

Qual a maneira que você, gestor rural, classifica e analisa os dados do seu agronegócio?

ANÁLISE POR SAFRA: ENTENDENDO A “SOLUÇÃO”

A análise por safra é uma das possibilidades de visualização fornecida por muitas ferramentas e profissionais atuando na gestão. É baseada na agregação e classificação de dados ocorridos ao longo de um ano agrícola. Seu objetivo é culminar na apuração de resultados econômico-financeiros e operacionais ao final de uma colheita e comercialização dos produtos produzidos.

Embora apresente a praticidade na apuração de dados, deve-se levar em conta os impactos desta escolha. Análises agrupadas em grandes grupos, como safras, levam a diagnósticos grosseiros e podem custar caro ao seu negócio. Entenda como essa praticidade pode impactar em, no mínimo, 10 aspectos da sua gestão.

1. Não identifica manchas de solos lucrativas

A partir do momento em que se opta pela análise por safra, automaticamente realiza-se análises pela média dos talhões. Porém, cabe lembrar que em uma mesma safra, talhões são comumente submetidos a manejos técnicos-produtivos diferentes. Logo, presumir que todos os talhões são uniformes, é assumir de início um grande erro.

Uma análise conjunta (por safra) não permitirá rever o ocorrido em cada lavoura. Dessa forma, análises comparativas entre diferentes lavouras de sojas, por exemplo. não serão possíveis. Diagnosticar qual cultura apresenta maiores retornos para um determinado talhão, também não será possível.

Escolher análise por safra é inviabilizar, futuramente, a identificação das manchas de solos mais e menos lucrativas.

2.Ausência de avaliação da eficiência de recursos

Uma operação agrícola com alta performance exige uma ótima alocação de recursos. Para alcançar essa ótima alocação, é necessário identificar quais são as atividades que consomem mais recursos para sua execução. Quanto maior a demanda de recursos, mais cara torna-se a operação.

Todavia, a avaliação desta eficiência não é possível em análises genéricas como as por safra. Visto que, toda e qualquer atividade será agrupada em um só resultado final. Logo, a aferição da eficiência operacional e a identificação de melhor proveito de cada máquina, pessoa ou insumo, individualmente, não será possível.

Toda interpretação de dados deve ser capaz de transformar uma simples coletas em tomadas de decisões certeiras.

3. Critérios medíocres de rateio de recursos

Todo recurso presente em um empreendimento rural está sujeito a ser utilizado em diferentes atividades agrícolas. Por exemplo, o mesmo colaborador pode desempenhar funções em mais de três produções agrícolas diferentes. O mesmo aplica-se a despesas gerais ou máquinas, entre outros, que são empenhadas em diferentes produções, e até mesmo na família. Quando realiza-se análises por safras, convencionalmente, procura-se atribuir critérios para separar os custos destes recursos entre as várias atividades agrícolas e o uso pessoal.

Esses critérios passam pelo número de hectares empregados em cada atividade, a quantidade de receita gerada, entre muitos outros. Enfim, critérios generalizados que por consequência levarão a apurações imprecisas do real resultado em cada atividade.

Claramente, o processo de análise pode levar a tomada de decisões erradas, quando não atentados às limitações da análise.

4. Produção é diferente de armazenamento

A possibilidade de armazenamento de insumos ou produto acabado são estratégias interessantes para proteger-se da oscilação de mercado. Mas, ao passo que se armazena algo, o mesmo gerará custos e merece avaliações completamente diferentes daquelas observadas na produção a campo. .

Ao realizar uma análise por safra, não será possível visualizar separadamente os custos referentes à produção e à armazenagem. Neste caso, não será possível identificar se a decisão por estocar realmente incrementou maiores lucros. Sua estratégia de estocagem pode continuar sendo um prejuízo invisível. Quando por exemplo, opta-se por estocar grãos na esperança de melhores preços. Ainda que o resultado final possa ser positivo. Ao  ignorar o custo de manter o silo funcionando de forma isolada, por exemplo, fica impossível avaliar o custo-benefício da estratégia adotada. .

5. Não aceita mudanças de planos

Ao longo da operação agrícola, a execução pode fugir do plano inicial. E para analisar os impactos desse fenômeno recorrente, será necessário alterar os dados de planejamento.

Análises abrangentes como a por safra, carrega como desvantagem a impossibilidade de realizar alterações pontuais e, ainda, automáticas. Qualquer mudança no planejamento pré-estabelecido não será facilmente editada por aquele que gerou a análise. Visto que a mesma é resultante de um único somatório de todos os custos, e não permite a segregação daquilo que já aconteceu ou ainda está por vir ao longo do ano agrícola.

6. Finanças pessoais como custo da safra

Uma análise financeira que apresenta as safras como critério de agrupamento, ignora o modelo de negócio preponderante no Brasil. O agronegócio brasileiro é composto, em sua maioria, por uma estrutura familiar e a mesma deve ser considerada.

Despesas familiares não devem ser contabilizadas em sacas produzidas da safra. É preciso reconhecer a importância de computar e separar finanças pessoais do negócio. Esta separação será fator decisivo para garantir a saúde financeira e impedir deslizes quanto à gestão de despesas do seu negócio. Ainda assim, as bases analíticas devem permitir a gestão das finanças pessoais, à medida que se misturam junto às finanças do negócio.

7. Ignora existência de culturas perenes

A palavra safra refere-se a um conjunto de produtos agrícolas produzidos em um ano. Todavia, é importante relembrar que muitas das culturas exploradas são perenes.

Culturas perenes podem levar intervalos de três anos para geração de receitas. Esta particularidade reflete diretamente na metodologia financeira de análise. Deve-se considerar tais períodos não produtivos como safra, visto que não há outro meio de classificá-los na análise?

Análises anuais, como a por safra, certamente não contemplarão análises financeiras de ciclos mais longos.

8. Avaliação incompleta de sistemas de integração

Sistemas de integração como ILP ou ILPF favorecem o melhor aproveitamento do uso da terra e seus recursos. Porém, fora a sinergia técnico-produtiva, deve-se avaliar os benefícios econômicos desta estratégia.

Apesar de se apresentarem em uma mesma área, a mesma não deve ser considerada como uma safra. Dado que, cada produto obtido demandou quantidades diferentes de recursos, capital empregado e tempo de execução. Portanto, para buscar análises precisas, cada produção deve apresentar seu custo e receita separadamente.

Ainda, algumas das plantas consorciadas podem figurar como prestadoras de serviços, como aquelas referentes à “adubação verde”, e merecem ser comparadas a práticas convencionais. Como fazer isso dentro de um ambiente de análise em que enxerga-se somente a safra?

9. Precariedade na minimização de riscos financeiros

O agronegócio movimenta valores altos de capital ao longo do ano agrícola e os mesmos devem ser avaliados com cautela.

Ao optar por um processamento de dados anual, como as análises por safra, inviabiliza análises financeiras dentro deste intervalo. Logo, a dinâmica de variação de capital de giro para melhores tomadas de decisão, não será possível. Como consequência, seu negócio ficará sujeito a maiores riscos financeiros. Visto que, muitas decisões serão tomadas sem a certeza de disponibilidade de caixa operacional.

10. Maiores dificuldades para visualização de oportunidades

Para um agronegócio promissor, o mesmo tem que ser competitivo. Saber analisar e viabilizar as oportunidades é uma habilidade desejável e que deve ser explorada.

O que todo bom gestor procura é a visão dos diferentes ângulos do seu agronegócio. E da mesma forma, a possibilidade de avaliar estratégias alternativas. Escolher análises genéricas, como a por safra, engessam análises de novas alternativas de negócio. Como avaliar, por exemplo, a entrada em negócios de culturas agrícolas que não respondem ao período das safras tradicionais? Ou ainda, como avaliar a entrada em negócios de pecuária a fim de maximizar as margens da agricultura, se a análise é feita por safra?

O gestor deverá buscar aplicações tecnológicas que são compatíveis ao seu negócio. Desde o seu retorno sobre investimento à sua capacidade de se moldar às particularidades do empreendimento. Não se atentar a essas características na largada pode comprometer as análises de gestão no longo prazo, como aqui destacado.

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