O encontro entre o financiamento, a tecnologia e o agronegócio
A cadeia do agronegócio brasileiro conta com cerca de 5 milhões de produtores rurais, e uma linha de crédito de mais de 200 bilhões de reais (MAPA, Plano Agrícola e Pecuário 2016/17) disponível para esses empresários.Sabidamente, contudo, a dificuldade na obtenção de financiamentos, ou a administração não satisfatória dos mesmos, vem afastando muitos destes produtores da fronteira de eficiência, o que acaba, no longo prazo, ocasionando no encerramento do agronegócio em questão.
A tecnologia e seus benefícios
A revolução digital vem mudando a forma com que negócios são realizados, e está cada vez mais enraizada no mundo, facilitando muitas tarefas e trazendo inúmeros benefícios. No Brasil não é diferente, o país conta com mais dispositivos conectados à internet do que pessoas propriamente ditas. O fato é que a quantidade, riqueza e granularidade das informações geradas a cada minuto é imensa, e a não digitalização destas deve comprometer a lucratividade de produtores no médio e longo prazo, prejudicando-os perante a competitividade.
Um novo modelo de negócios que vem aproveitando brechas e encurtando a distância entre linhas de crédito e produtores rurais são as empresas de tecnologia financeira. Recentemente um artigo da empresa Oliver Wyman, empresa de consultoria estratégica de nível global, abordou aspectos relacionados a empresas de tecnologia financeira, chamadas de “Fintech”, e seus impactos para as micro, pequenas e médias empresas (PMEs) da América Latina e Caribe.
As PMEs da América Latina e Caribe compõem um mercado muito heterogêneo, o que dificulta operações de bancos e outras empresas que operam da forma convencional, ou melhor dizendo, não (inteira ou parcialmente) digital. Isto é evidenciado particularmente no Agronegócio, onde produtores primários muitas vezes não conseguem obter sequer as linhas de financiamento disponibilizadas a custos subsidiados. Devido à burocracia, falta de informações, tempo necessário, dentre outros empecilhos, o mercado não consegue aproveitar o crédito disponível a ele, por não congruência de informações e soluções existentes.
O resultado deixa no mercado uma lacuna para a emergência de novas empresas de tecnologia financeira, as Fintech, disponibilizarem soluções inovadoras, principalmente para as PMEs no âmbito financeiro. As Fintech atuam no mercado de pagamentos, gestão empresarial, seguros, crowdfunding, financiamentos, segurança digital, análises de dados, entre outros no mundo digital.
Suas soluções barateiam e aceleram significativamente as análise de dados, aumentam a disponibilidade de produtos financeiros, reduzem riscos, otimizam a mão-de-obra, aproximam clientes e empresas acarretando uma maior riqueza de informações disponíveis. Os maiores benefícios trazidos são a facilitação na obtenção de financiamentos e a customização de produtos de acordo com as necessidades específicas dos tomadores. Com elas, torna-se possível traçar perfis de risco mais acurados, agilizar processos, buscar soluções diferenciadas e personalizadas para cada tipo de empresa, mercado e necessidade. Em suma, a revolução digital está mais uma vez mudando a forma como coisas eram feitas no passado.
A realidade do agronegócio brasileiro
Não diferente de outros setores, apesar de ser o menos digitalizado, o agronegócio vem encontrando na tecnologia uma forte aliada para o aumento de retornos financeiros, seja no âmbito produtivo ou administrativo.
Longe de ser um problema exclusivo de outros setores, o agronegócio brasileiro sofre também com dificuldades de obtenção de crédito e seguros. O grande fator que contribui para tal, é a falta de gestão financeira qualificada de alguns pequenos, médios e grandes produtores rurais, que possibilite dar a visibilidade adequada a potenciais credores sobre o risco associado ao financiamento. Na grande maioria das vezes, não é possível traçar um perfil de risco adequado, bem como entender o propósito da utilização final do financiamento em questão. O financiamento na cadeia do agronegócio fica limitado a um número restrito de financiadores, principalmente bancos públicos e tradings originadoras de grãos. As últimas se tornaram grandes financiadoras, dado o conhecimento que elas tem sobre o setor e sobre a capacidade de mensurar e gerir riscos de produtores.
O arcabouço legal brasileiro permite o uso de instrumentos jurídicos e financeiros não encontrados em lugar nenhum do mundo. CPRs, CRAs, CDCAs entre outros, são títulos exclusivos do Agronegócio brasileiro estruturados nas últimas duas décadas, que permitem o levantamento de recursos financeiros de forma que não seria possível em outras localidades do planeta, como por meio das próprias operações de Barter.
A solução: A gestão financeira aliada a tecnologia
Novas tecnologias permitem uma melhor avaliação da saúde financeira de produtores e consequente ampliação dos financiamentos disponíveis. Elas permitem casar a rapidez, riqueza e baixos custos para levantar e analisar dados que, mesmo com a grande heterogeneidade de atividades agropecuárias no país, possibilitem delinear perfis de risco mais detalhados, completos e confiáveis. Já são mais de 200 empresas registradas como Fintechs no Brasil, levando muitos dos benefícios citados ao mercado.
A adoção de boas práticas de gestão financeira, e portanto de certas tecnologias, aproximará cada vez mais pequenos, médios (e também grandes) produtores rurais a usufruírem dos serviços disponibilizados pelas Fintechs, e eleverá o crédito disponível ao setor agropecuário primário. Essas tecnologias chegam ao mercado a uma fração do benefício que elas proporcionam. Variações em 1% na taxa de juros de um financiamento de custeio pode muitas vezes representar variações diretas de 1% na margem de lucro da atividade. Custos financeiros são de extrema importância e devem ser encarados com o mesmo cuidado e análise que os custos associados à produção. Ter acesso a capital em momentos oportunistas de mercado resulta na realização de lucros imensuráveis e outrora não possíveis diante das flutuações de mercado.
Considerar a adoção de tecnologias financeiras é indispensável para aqueles que buscam sustentabilidade econômica no longo prazo da atividade.