Existem custos negligenciados no seu agronegócio?
A produção primária agropecuária no Brasil cresce junto com o agronegócio, grande potência da economia brasileira. Neste cenário, produtores são constantemente questionados quanto à eficiência produtiva, e mais ainda, em um contexto altamente competitivo, quanto à sua eficiência econômico-financeira, um divisor de águas entre os agronegócios que se manterão no mercado e os que sairão da atividade agropecuária no longo prazo.
Parte da eficiência econômico-financeira são os custos. Custo pode ser definido como o valor empregado na produção de um bem ou serviço com potencial de geração de valor. Ou seja, é o valor pago para produzir um bem ou serviço. Tal fato não é novidade para grande maioria dos produtores rurais brasileiros, contudo, grande parte dos custos é corriqueiramente negligenciada, o que tem grande impacto na avaliação precisa do resultado operacional ou final do agronegócio.
A apuração incompleta de custos
Comumente gestores associam custos a desembolsos monetários apenas, ou seja, vêem os custos como qualquer despesa que exija a saída de dinheiro. O fato é que este conceito representa apenas uma parte do todo, contemplando aquilo que chamamos de despesas caixa. Despesas caixa são despesas demonstradas pelo desembolso de dinheiro do agronegócio. Estas despesas incluem: pagamento da conta da casa agropecuária, pagamento de salários, pagamento de manutenções, pagamento da compra de insumos e materiais, entre outros.
Despesas caixa são apenas uma alíquota do custo total e, consequentemente, apurar custos tendo estas como único componente é errôneo e afeta diretamente a avaliação dos resultados econômicos do agronegócio em questão, prejudicando a tomada de decisões e também podendo afetar a sua sustentabilidade econômica de longo prazo.
Este fato justifica que uma gestão realizada apenas por fluxo de caixa, é incompleta, onde os apontamentos de entradas e saídas de dinheiro, ou movimentações financeiras, desconsidera qualquer outra despesa, que não a despesa caixa. Ainda, as movimentações financeiras, ou as parcelas referentes a certos pagamentos, podem ocorrer em período diferente daquele em que os recursos provenientes dos desembolsos foram de fato utilizados, tornando a avaliação financeira imprecisa, além de incompleta.
Despesas negligenciadas e seus impactos
Ao quantificar os gastos ao longo do período, muitos gestores negligenciam os custos que impactam diretamente o lucro do agronegócio. Além de despesas gerais, financeiras, comerciais, entre outras, que muitas vezes não são devidamente alocadas nos produtos produzidos, é comum ver gestores negligenciando as despesas não-caixa. Despesas não-caixa são as despesas que não são associadas à saída de dinheiro no ato da movimentação de um determinado recurso, porém, ainda assim são parte do custo total de produção de bens ou serviços. Um grande exemplo de despesa não-caixa é a depreciação, despesa que não requer desembolso de dinheiro, e portanto não aparece no fluxo de caixa, mas que faz parte do custo total da produção do produto final, uma vez que a máquina ou instalação é utilizada para produção desde bem ou serviço.
Incluem-se nesta categoria os custos associados à remuneração do capital empregado, também chamado de custo médio ponderado de capital, diretamente relacionado ao investimento realizado no agronegócio, seja do próprio bolso ou de terceiros.
Outros exemplos de despesas não-caixa são contas a pagar, ou juros a pagar. Neste caso, o desembolso do dinheiro pode ser realizado em período posterior ao de produção de uma commodity, por exemplo. Contudo, o insumo ou ativo relativo a tal conta já foi utilizado para produção desta commodity, a obrigação do pagamento já se faz presente, e o recurso em questão já deve ser contabilizado como custo de produção, ainda que em período anterior ao efetivo desembolso financeiro. Similarmente, encontram-se as despesas pré-pagas e utilização de estoques existentes.
Dentro da mesma categoria estão as operações que incluem mercadorias ou serviços no pagamento. Operações como Barter, por exemplo, utilizam o produto final como forma de pagamento de insumos, o que não exige desembolso de dinheiro e, portanto, também não constam no fluxo de caixa. Entretanto, o valor deste produto configura uma despesa não-caixa, e é componente do custo total. Do mesmo modo, operações de troca de serviços, ou pagamentos de serviços com mercadorias não aparecem no fluxo de caixa e muitas vezes são esquecidas.
Em suma, existem diversos custos que são peças chave do custo total, e quando deixadas de fora da conta mascaram e iludem gestores e produtores, visto que a negligência enviesa resultados econômico-financeiros positivos, e leva a decisões que podem ser comprometedoras no curto, médio e longo prazo.