Entenda o ciclo do metano e o que fazer para prevenir riscos

Na gestão de riscos, saber o ciclo do metano no agronegócio é essencial para promover a eficiência da produção e reduzir a emissão de CH4

Ciclo do metano (Shutterstock)

Por isso, são necessárias ações estratégicas com vistas à redução da emissão desse gás para mitigar os efeitos das mudanças climáticas no agronegócio.

A agropecuária brasileira, ao mesmo tempo que emite metano, por meio da  fermentação entérica dos bovinos e bubalinos, pode aproveitá-lo, por exemplo, para gerar energia.

Entenda neste artigo como ocorre o ciclo do metano no agronegócio e veja estratégias de redução das emissões de CH4 que podem ser adotadas em sua fazenda. Boa leitura!

O que gera gás metano?

O gás metano (CH4) é gerado por meio de fontes variadas, que vão desde os vulcões, por meio das erupções, até a decomposição da matéria orgânica e a digestão de herbívoros.

É um dos gases mais primitivos: está presente no processo bioquímico de origem da vida na Terra, segundo a teoria heterotrófica dos biólogos Aleksandr Oparin e John Haldane.

Assim, pode ser gerado do gás natural, ao ser extraído de depósitos geológicos, na forma associada, junto ao petróleo, ou não associada, isolado ou pequena quantidade de petróleo.

Os três principais geradores de metano por ações antropogênicas (do ser humano) são:

  • a extração, produção e a distribuição de combustíveis fósseis (carvão, gás natural e petróleo);
  • as atividades agrícolas e de pecuária;
  • e os aterros sanitários ou de resíduos urbanos municipais (lixões) e estações de tratamento de esgotos.

Estudos científicos mostram que a concentração atmosférica do metano mais que dobrou desde os tempos pré-industriais.

A parte boa é que a emissão do CH4 é muito menor que a do CO2 – mede-se em partes por bilhão de ar, enquanto o gás carbônico é medido em partes por milhão.

Quanto tempo o metano fica na atmosfera?

O metano dura menos na atmosfera – cerca de 12 anos –, enquanto o gás carbônico permanece por, aproximadamente, 150 anos.

Em 2020, as emissões de metano em todo o mundo foram de 364 milhões de toneladas, o que representa 10 bilhões de toneladas de gás carbônico.

Somente o Brasil, emitiu 21,7 milhões de toneladas de metano, equivalente a 565 milhões de toneladas de CO2.

Ao menos metade do aumento líquido da temperatura global se deve ao CH4.

Veja abaixo o ciclo do metano:

Imagem ilustrativa sobre o ciclo do metano (Fonte: Seeg Brasil)

Na ilustração acima, é possível observar o ciclo do metano em diversas áreas, sendo que as atividades agropecuárias têm importante papel nisso. Veja mais detalhes abaixo!    

Como a agropecuária produz gás metano?

A agropecuária produz metano, sobretudo, por meio da fermentação entérica durante o processo digestivo dos animais herbívoros ruminantes (bovinos e bubalinos).

Por isso, o nível de metano produzido por animais depende da alimentação (o que come e a quantidade) e tempo de vida (geralmente, o animal é abatido aos 3 anos de idade).

Além disso, o metano é liberado também no esterco desses animais e durante a produção de arroz em casca, cujos campos inundados evitam a penetração do nitrogênio no solo.

Isso cria condições para a proliferação de bactérias emissoras de metano.

Quanto de metano o gado produz?

Um estudo da UFPR (Universidade Federal do Paraná) apontou que uma vaca com peso médio de 600 kg e que consome 39,1 kg/dia de ração produz em média 100 kg de metano ao ano, seja pela fermentação entérica ou pela eliminação de dejetos.

Isso equivale a 0,27 quilos de metano por dia. No entanto, essa quantidade de metano varia de acordo com as especificidades relatadas no tópico anterior.

No caso desse estudo da UFPR, a ração fornecida continha silagem de sorgo (23,4 kg), feno de alfafa (7,8 kg), milho rolão (5,2 kg), farelo de soja (2,5 kg) e suplemento mineral (0,08 kg).

Ainda de acordo com essa pesquisa, 550 animais de diversas categorias produziram em média 55.000 kg de metano por dia.

O estudo também mostrou que, com o aumento de 50% de milho rolão na dieta e a redução da mesma quantidade de outros nutrientes, a emissão de metano caiu para 0,22 kg por dia.

Ciclo do metano: como reduzir a emissão do gás na fazenda

A redução do metano por parte da agropecuária com a manutenção da produtividade envolve a execução de estratégias específicas, conforme você vê abaixo.

Na pecuária de corte, é recomendada a terminação intensiva (abate com 2 anos), melhoramento genético, manipulação da fermentação ruminal e melhoramento da dieta animal.

A redução da emissão do metano por meio dos dejetos animais pode ser realizada a partir do tratamento do sistema de acondicionamento desses compostos, com o uso de biodigestores e compostagem.

Ciclo do metano (Shutterstock)
Silos da planta de produção de gás metano a partir de esterco (Fonte: Envato Elements)

No plantio de arroz em áreas alagadas, a proposta é a realização de um manejo em que elas não precisem ficar permanentemente com o solo coberto de água.

Na colheita da cana-de-açúcar, uma das práticas já adotadas é a mecanização, que substituiu a queima e já reduziu em 80% as emissões dessa atividade nas últimas décadas.

De acordo com a Seeg Brasil, essas práticas podem ajudar a reduzir as emissões de metano pela agropecuária em até 30%.

Ações do agro que ajudam no combate às mudanças climáticas

Diversas iniciativas já são realizadas pelo agronegócio no Brasil para auxiliar no combate aos efeitos das mudanças climáticas, com o sequestro de carbono, além da redução do metano, como visto acima.

As principais são as que seguem abaixo:

  • Sistema ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta): voltado para recuperação de pastagens degradadas, bem-estar animal, diversificação da produção agrícola e aumento do sequestro de carbono. Em 2020, segundo a Embrapa havia no Brasil cerca de 17,42 milhões de hectares com o ILPF no Brasil;
  • Sistema Plantio Direto: técnica que favorece à reestruturação física e química do solo, através do plantio direto sobre a “palha”, restos de matéria orgânica de um cultivo anterior. Está presente em cerca de 33 milhões de hectares no país;
  • Planos ABC e ABC+: Iniciativa governamental, o Plano ABC (agricultura de baixo carbono) financia projetos agrícolas cujas práticas ajudam a sequestrar carbono na atmosfera, por meio do Programa ABC, linha de crédito que faz parte do Plano Safra; em 2022, o plano foi aperfeiçoado com o lançamento do ABC+;
  • Mercado de crédito de carbono: está em curso no Brasil a regulação nacional do mercado de crédito de carbono, por meio do Decreto 11.075, que visa estabelecer procedimentos para a elaboração dos Planos Setoriais de Mitigação das Mudanças Climáticas.

Conclusão

Além do CO2 e do CH4, outro gás que contribui para o aumento do aquecimento global é o óxido nitroso (N2O), e a emissão deles pode ser reduzida pelo agronegócio.

Diversos estudos mostram que isso é possível.

Um dos mais recentes aponta que a tecnologia de inoculação do milho na semeadura com a bactéria Azospirillum brasilense ajuda a reduzir em 25% o N na adubação de cobertura.

Nesse sentido, deve ser constante a sua busca por métodos eficientes de redução dos gases de efeito estufa, e por isso você deve entender o ciclo do metano no agronegócio.

Dessa forma, você se sentirá mais seguro em promover inovações que façam a sua fazenda continuar a render, com menos custo e maior sustentabilidade.

Mario Bittencourt

Analista de Copywriting da Perfarm, é jornalista e pós-graduado em Agricultura de Precisão e em Ciência de Dados. Faz mestrado em Agricultura de Precisão na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

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