Doenças do cafeeiro: como identificar e fazer o manejo

Doenças do cafeeiro: saiba como controlar a ferrugem, o phoma, a cercosporiose, a mancha anular e os nematóides, entre outras

Doenças do cafeeiro (Envato Elements)

Controlar as doenças do cafeeiro é um dos grandes desafios da produção de café, já que elas interferem diretamente no rendimento da produtividade e da qualidade do grão.

As doenças podem ser causadas por fungos, bactérias, vírus e até vermes parasitas, que podem reduzir em até 35% a produção e limitar o cultivo.

Diversos métodos podem ser utilizados para identificar as doenças e realizar o seu controle, e hoje em dia o uso da tecnologia tem sido uma importante aliada. Saiba mais neste artigo!

O que favorece o surgimento das doenças do cafeeiro? 

O surgimento das doenças do cafeeiro pode ter como causas altas temperaturas, excesso de chuvas, alta umidade relativa do ar, podas malfeitas e a falta de manejos fitossanitários.

Essas condições podem favorecer ao surgimento de hospedeiros de doenças, cujo nível de gravidade varia de acordo com a espécie de café (arábica ou robusta), as condições climáticas da região onde está a lavoura e o tipo de enfermidade que atinge a planta.

Cada doença possui uma determinada época do ano e de fase de desenvolvimento fenológico do café. Por isso, os manejos de prevenção serem feitos nas épocas indicadas para cada tipo de patologia.

Fases para manejos fitossanitários do cafeeiro (Fonte: Embrapa)

No caso do café arábica, que possui a bienalidade (um ano de alta e outro de baixa produção), é preciso mais cuidados com os manejos, principalmente em épocas de baixa, para o rendimento não cair ainda mais – no robusta, a bienalidade não tem grande influência na produtividade.

Fases da fenologia do cafeeiro

É importante conhecer os estádios fenológicos do cafeeiro para saber como agir nos momentos certos do manejo fitossanitário.

Os estádios são divididos em:

  • Gema dormente: planta com folhas novas em formação (primeiro ano);
  • Gema entumecida: plantas em transformação para formar os botões florais (segundo ano);     
  • Abotoado: é quando os botões florais começam a aparecer (terceiro ano);  
  • Florada: florescimento total da planta de café, dura sete dias (terceiro/quarto ano); 
  • Pós-florada: quando as flores já estão murchando para se transformarem em chumbinhos (terceiro ano); 
  • Chumbinho: frutos do café em fase inicial (terceiro ano); 
  • Expansão: fase de crescimento dos frutos do café (terceiro ano); 
  • Grão verde: frutos do café já cheios, prontos para amadurecer (terceiro ano);
  • Verde-cana: os frutos começam a ficar com um verde mais fraco, encaminhando para o vermelho (terceiro ano);
  • Cereja: é como são chamados os frutos já amadurecidos (terceiro ano);
  • Passa: são frutos que já estão passando do tempo de colheita, devendo serem colhidos o quanto antes (terceiro ano);
  • Seco: geralmente, são frutos que caíram no chão durante a colheita ou amadureceram no pé sem serem colhidos (terceiro ano).

Dependendo da variedade de café, essas fases podem ocorrer em um tempo maior, a partir do quarto ou quinto ano. Mas hoje em dia, com o desenvolvimento de cultivares mais produtivas e precoces, o comum é essas fases iniciarem a partir do terceiro ano de plantio do café.

De qualquer forma, é necessário orientação técnica para que o manejo seja realizado na época correta e nas quantidades necessárias.

Outro ponto de atenção é com relação aos produtos químicos a serem utilizados no manejo fitossanitário, que devem estar registrados no Ministério da Agricultura como próprios para plantas de café.

Para reduzir custos com o manejo fitossanitário, é importante utilizar no plantio, mudas de variedades resistentes às doenças, sobretudo a ferrugem, principal doença do cafeeiro.

Quais as principais doenças do café?

As principais doenças do cafeeiro são a ferrugem, as manchas do phoma, aureolada e anular, a cercosporiose, a seca dos ponteiros e os nematoides das galhas.

1. Ferrugem do cafeeiro

Principal doença do pé de café, a ferrugem (Hemileia vastatrix) atinge a parte aérea da cultura, podendo provocar redução de até 30% na produção se não controlada.

A depender do estado nutricional do cafeeiro e do grau de susceptibilidade, pode provocar intensa desfolha. Geralmente ocorre depois de 20 a 30 dias de chuvas leves ou moderadas, sendo a ocorrência de fevereiro a abril.

Folha de café com ferrugem (Fonte: Epamig)

A ferrugem do cafeeiro dissemina-se facilmente pelo vento, em temperatura variando entre 25 a 28º C. Umidade relativa maior que 90% (noturno). Ela provoca pequenas manchas circulares de cor amarelo-alaranjada, com diâmetro de 0,5 cm, na parte inferior da folha.

Controle da ferrugem do cafeeiro

Ocorre por meio do monitoramento constante para determinação do momento de controle, que pode ser feito por meio da coleta de 100 folhas do terço médio da planta para cada talhão.

Método para de monitoramento da ferrugem do cafeeiro (Fonte: Epamig)

O nível de dano econômico para o controle é de 5% das folhas infectadas e o levantamento deve ser feito ao menos uma vez por mês a partir de dezembro. Além de variedades resistentes, podem ser usados fungicidas protetores e sistêmicos, já que a doença é causada por um fungo.

2. Mancha de Phoma no cafeeiro

Causada por fungos do gênero Phoma, a Mancha de Phoma infecta a planta, principalmente, por meio de ferimentos leves, além de penetrar nos brotos, frutos e folhas, na presença ou ausência de ferimentos. Geralmente, os danos que facilitam a penetração do fungo na planta são causados por insetos.

A temperatura entre 18ºC e 26ºC e a umidade do ar próxima a 100% fornecem condições ideais para o desenvolvimento do fungo, bem como os períodos de intermitentes de frio, ventos e chuvas, durante os meses de agosto a outubro e março e maio. A depender da região, no entanto, essas condições podem ocorrer em outros meses.

Folhas de café com sintomas de Phoma (Fonte: Epamig)

Os sintomas nas folhas novas são manchas circulares de coloração escura e tamanho variado, podendo chegar a 2 cm de diâmetro. As bordas das folhas ficam encurvadas quando atingidas pela doença. Nos ramos, há lesões escuras, que podem ocorrer ainda nos botões florais, flores e frutos no estádio de chumbinho, causando a morte dos mesmos. 

Controle da Mancha de Phoma

Na implantação de uma lavoura de café, uma das estratégias para evitar o Phoma é a utilização de mudas certificadas, oriundas de viveiros idôneos.

O controle preventivo da Phoma pode ser feito evitando instalar a lavoura em locais de vento frio e colocando quebra-ventos ao redor da área de produção.

O manejo nutricional correto também ajuda a reduzir problemas com a Phoma, além das aplicações de fungicidas em épocas específicas que são favoráveis ao aparecimento da doença.

Outra estratégia de controle eficaz é o manejo fitossanitário nas fases de pós-florada e nas áreas onde a doença ocorre com mais frequência.

3. Mancha de Ascochyta

A Mancha de ascochyta (Ascochyta spp) tem como condições ideais para o seu aparecimento a temperatura entre 15ºC e 25ºC. Os sintomas são manchas de cor marrom com anéis concêntricos nas folhas, e as formas de controle iguais às da Mancha de Phoma.

4. Mancha Aureolada

A Mancha Aureolada (Pseudomonas syringae garcae) é causada por uma bactéria e pode ocorrer em viveiros de mudas, onde dá mais prejuízos, e em lavouras em formação ou adultas.

Os sintomas são a coloração parda e escura, circundadas por um halo amarelo, vindo daí a denominação Mancha Aureolada. Em cafeeiros novos, a doença causa secura nos ramos laterais e ponteiros dos galhos. As rosetas ficam escuras e os chumbinhos mumificados. Os sintomas da Mancha Aureolada são parecidos com os da Mancha de Phoma.

Sintomas de Mancha Aureolada nas folhas de café (Fonte: Epamig)

Lavouras em locais de maiores altitudes e desprotegidas da ação dos ventos estão mais sujeitas à doença. Os ventos causam ferimentos nas folhas e ramos novos, abrindo portas para entrada da bactéria. Chuvas intensas e de granizo também podem provocar lesões. Os períodos mais críticos são entre outubro e dezembro.

Controle da Mancha Aureolada do cafeeiro

O principal meio de controle da Mancha Aureolada do cafeeiro são as ações preventivas, como a proteção contra ventos frios e excesso de umidade, além de mudas certificadas. Por isso, é de grande importância avaliar esses quesitos antes de instalar a lavoura ou instalar quebra-ventos.

O controle da bactéria em viveiros e lavouras novas ocorre por meio de antibióticos, que podem ser misturados com oxicloreto de cobre para aumento da eficiência. 

5. Mancha anular do cafeeiro

Causada por um vírus, a Mancha anular (Coffee ringspot virus – CoRSV) ou leprose causa desfolha intensa de dentro para fora, o que ficou denominado de planta oca. Pesquisas apontam que em áreas infectadas a redução da produção é de 20%.

Os sintomas da Mancha anular ocorrem nas folhas, que ficam com aspecto de mortas e em forma de anéis, podendo ser alongados acompanhando as nervuras. Nos frutos, as manchas aparecem na fase cereja, em formas de anéis, descoloridos, deprimidos ou não. Ataques severos aparecem nos ramos tenros e verdes.

Controle da Mancha anular

O  controle pode ser feito por meio do equilíbrio biológico da lavoura, com a preservação de ácaros predadores. O ácaro-vetor (que leva o vírus) pode ser combatido por meio de acaricidas seletivos nas áreas onde a doença foi detectada.

6. Cercosporiose do cafeeiro 

Também conhecida como olho pardo, mancha parda, mancha circular ou olho de pombo, a Cercosporiose (Cercospora coffeicola) ataca folhas e frutos do pé de café, seja ainda nos viveiros ou já no campo.

Os sintomas são manchas circulares de coloração castanho-clara a escura, com o centro branco-acinzentado, quase sempre envolvidas por um halo amarelo.

Folhas com sintomas de cercosporiose (Fonte: Epamig)

Qualquer condição que leve a planta de café a um estado nutricional deficiente ou desequilibrado favorece à doença, além das condições climáticas, umidade relativa alta, temperaturas amenas, excesso de insolação e déficit hídrico.

Cercosporiose em frutos do café (Fonte: Epamig)

Controle da cercosporiose do cafeeiro

O controle da cercosporiose precisa ser feito no viveiro, nas fases de plantio e pós-plantio e na lavoura, onde também são necessárias ações de prevenção.

  • Viveiro de mudas: instalações secas e arejadas, evitando alta umidade, baixa temperatura, vento frio e insolação. O solo dos sacos devem ter qualidade, preparados com esterco puro, bem curtido e ter adubos químicos adicionados, além de fertilizantes/adubos de cobertura e foliares;  
  • Plantio e pós-plantio: correção e nutrição adequada do solo, controle químico, adubações nitrogenadas regulares;
  • Lavoura: manejo nutricional do solo de forma equilibrada, na área radicular, com acompanhamento periódico por meio de análise foliar.

No controle podem ser usados ainda a aplicação de fungicidas via foliar

7 . Nematoide das galhas no cafeeiro

Existem 17 tipos de nematóides que atingem o cafeeiro, todas do gênero Meloidogyne ssp. A que mais preocupa é a espécie Meloidogyne exigua, por conta da grande disseminação. Outras espécies que preocupam são a M. incognita e M. paranaensis.

Os nematóides do gênero Meloidogyne ssp. são conhecidos por formarem galhas nas raízes do cafeeiro, reduzindo a capacidade de a planta absorver água e nutrientes, o que provoca sintomas como amarelecimento e nanismo das plantas.

Como controlar nematóides no cafeeiro

Para evitar problemas com nematóides no cafeeiro, é preciso fazer uma análise prévia do solo antes da implantação da lavoura. Eles ocorrem em solos arenosos e com pouca matéria orgânica.

Cultivares de cafeeiros resistentes aos nematoides das galhas (Fonte: Instituto Biológico)

Uma forma de evitar os nematóides das galhas é utilizando cultivares de café que são resistentes aos vermes que parasitam as raízes das plantas.

8. Seca dos ponteiros no cafeeiro

A doença da seca dos ponteiros no cafeeiro é causada por diversos agentes, a exemplo do Ascochyta spp., Hemileia spp., Colletotrichum spp., Cercospora spp. e Phoma spp, tendo como condições ideais a falta de equilíbrio nutricional e umidade. O sintoma principal é a morte dos ramos.

Controle da seca dos ponteiros no cafeeiro

A forma de controle é a aplicação de fungicidas cúpricos após a colheita. É preciso seguir orientação técnica agronômica para a correta aplicação.

Doenças de menor impacto no cafeeiro

A fusariose e a mancha-manteiga têm ocorrência menor e são restritas a focos na cafeicultura do Brasil, mas é preciso se atentar a elas devido a sua expansão para as regiões produtoras.

1. Fusariose no cafeeiro

A fusariose (Fusarim sp) é uma doença que atua no sistema vascular da planta, e a infecção se dá a partir de ferimentos causados por podas, capinas ou ataques de fungos no sistema radicular.

Como identificar

Como sintomas, a fusariose causa a murcha do caule e ramos laterais do cafeeiro, de cima para baixo, podendo surgir em plantas isoladas ou em grupo. A doença também pode aparecer em mudas com lesões e rachaduras no caule.

Como controlar

Um dos principais métodos de controle é evitando danos mecânicos e ferimentos nas raízes e caule, para que o fungo não entre. Se a doença for constatada, deve-se arrancar a planta e atear fogo.  

2. Mancha-manteigosa no cafeeiro 

Também denominada de mancha-oleosa, a Mancha-manteigosa é causada pelo fungo do gênero Colletotrichum  e ataca a parte aérea da planta.

Como identificar

Apresenta como sintomas em folhas novas as lesões arredondadas de cor verde-clara e de aspecto oleoso, sendo bem distribuídas por toda a folha.

Folha de café com a mancha-manteigosa (Fonte: Epamig)

Por isso, ela pode causar desfolha no pé de café, além de lesões nos frutos e ramos de coloração marrom-clara com bordas irregulares.

Como controlar

Para controlar a mancha-manteiga no cafeeiro, é preciso a utilização de fungicidas em plantas específicas, já que ele não espalha com facilidade pelo cafezal, atingindo algumas plantas. Caso seja necessário, pode ser feito o replantio em falhas eventuais.

Conclusão

A realização dos manejos necessários para uma boa produção de café devem ser seguidos à risca e serem aplicados sob orientação técnica.

No caso dos manejos fitossanitários, é preciso se atentar para as épocas de aplicação, conforme o ciclo de desenvolvimento fenológico do cafeeiro.

É importante observar também a qualidade das mudas, que devem ser certificadas e oriundas de viveiros idôneos, além das condições físicas, químicas e biológicas do solo da área de produção, já que uma das maneiras de reduzir os problemas com doenças e pragas é ter um maior equilíbrio ambiental.

Assim, procure manter o solo do seu cafezal sempre bem nutrido, com boa quantidade de matéria orgânica e tenha atenção com serviços mecânicos para não ferir as plantas e facilitar a entrada das doenças do cafeeiro.

Mario Bittencourt

Analista de Copywriting da Perfarm, é jornalista e pós-graduado em Agricultura de Precisão e em Ciência de Dados. Faz mestrado em Agricultura de Precisão na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

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