Saiba tudo sobre Agricultura de Precisão (AP)
A Agricultura de Precisão (AP) envolve o uso de tecnologias para maior eficiência na gestão da sua fazenda: saiba como ela te ajuda a lucrar mais
Sua fazenda pode ter maior rentabilidade com a Agricultura de Precisão (AP), como vem acontecendo com milhares de propriedades rurais onde ela é praticada.
Na AP, você faz uso das tecnologias para aplicação de insumos em taxa variável, o que gera economia de custos, maior produtividade e sustentabilidade ambiental.
Iniciar na AP é mais fácil do que se imagina, e existem, inclusive, diversas tecnologias de uso gratuito que te ajudam nisso. Saiba quais são elas neste artigo e inicie já na AP!
O que é agricultura de precisão?
A Agricultura de Precisão (AP) é um modelo de gestão da fazenda que se utiliza de tecnologias para o manejo do solo e insumos à taxa variável e baixo impacto ambiental.
Essa é uma definição da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) sobre a AP, introduzida no Brasil na década de 1990 pela empresa governamental.
De lá para cá, muitos avanços já ocorreram, de modo que a agricultura de precisão representou a fase de introdução da Agricultura 3.0 no Brasil.
Atualmente, o país está na fase da Agricultura 4.0, iniciada em 2015 e marcada pelo uso de sensores, computação em nuvem, big data, drones, satélites e aplicativos móveis.
Como surgiu a agricultura de precisão?
A agricultura de precisão surgiu há 300 anos, quando norte-americanos aplicaram fonte variável de peixes como matéria orgânica para o cultivo de milho.
O primeiro registro acadêmico da AP, no entanto, ocorreu em 1929, nos EUA, com Linsley e Bauer, que recomendaram a um produtor rural aplicar calcário com teste de acidez e mapas em grade.
A partir de 1950, com a mecanização agrícola e outros avanços, como o GPS e máquinas com sensores embarcados, houve o aperfeiçoamento da AP.
Hoje, a AP é utilizada largamente na produção de grãos no país e é uma das responsáveis por fazer com que o agronegócio brasileiro seja um dos mais competitivos do mundo.
Por meio da agricultura de precisão, é possível observar melhor as diversas variáveis que influenciam a produtividade da lavoura, o que favorece a tomada eficiente de decisão.
Além disso, a AP ajuda na gestão de riscos climáticos, por meio de sensores que preveem situações extremas – geadas, excesso de chuvas e estiagens prolongadas.
Dois conceitos básicos para entendimento sobre a AP são o de variabilidade espacial e o de variabilidade temporal. Acompanhe!
O que é variabilidade espacial?
A variabilidade espacial, em AP, está relacionada aos diversos atributos de uma área de produção (solo e plantas).
Isso porque a variabilidade espacial mostra que cada pedaço da área de produção precisa ser manejado de acordo com suas características e necessidades.
No solo, por exemplo, é possível detectar, seja em 1 ou 100 ha, diferentes níveis de acidez, nutrientes, umidade, presença de matéria orgânica e argila bem como a altimetria.
Já nas plantas, essa variabilidade espacial pode se relacionar com:
- a aplicação de herbicidas para dessecação da área, com o objetivo do plantio ser feito no limpo, sem a presença de plantas daninhas;
- a semeadura, já que na AP as áreas avaliadas como mais produtivas recebem maior quantidade de sementes, enquanto nas menos produtivas ocorre o contrário;
- a germinação: por meio do índice de vegetação, obtido em imagens de satélite ou drones, é possível avaliar possíveis falhas no plantio e fazer correções em menor tempo;
- sensores instalados em drones, com câmeras RGB, ou em equipamentos portáteis de uso manual, que conseguem detectar o estado nutricional das plantas, por meio do comprimento de onda das folhas no índice de vegetação;
- o nível de infestação de pragas e doenças, bem como de plantas daninhas;
- e, principalmente, com a produção final em cada parte do talhão, que trará informações essenciais sobre os resultados de todo o manejo realizado e apontará o que deve ser melhorado para a próxima safra.
A variabilidade espacial, assim, se relaciona com um determinado momento da lavoura, em um curto espaço de tempo, no qual é avaliado se há algo a fazer para melhoria da área.
O que é variabilidade temporal?
A variabilidade temporal diz respeito às análises espaciais que são realizadas durante o decorrer de um tempo mais longo, que pode ser um ano ou uma safra, por exemplo.
Assim, os mapas de variabilidade temporal são resultado das ações realizadas com base nos mapas de variabilidade espacial e mostram as alterações que ocorreram no tempo.
Eles são muito úteis, por exemplo, para comparar zonas de produtividade de um ano para o outro, como nos mapas acima, sendo possível observar quais áreas da fazenda estão rendendo mais.
Com isso, é possível fazer avaliações mais precisas sobre quais áreas necessitam de maior atenção do que outras. Note que nos mapas acima a produtividade da soja do ano de 2011 foi acima da de 2012, tendo retornado a níveis melhores em 2013.
Quais são os objetivos da agricultura de precisão?
O objetivo da agricultura de precisão é aumentar a produtividade da lavoura a partir do manejo diferenciado, feito com base nas informações da variabilidade espacial.
Diversos estudos realizados por órgãos governamentais e na academia mostram a viabilidade da aplicação da AP, seu retorno econômico e a sustentabilidade.
Um deles, publicado recentemente, foi realizado pela Embrapa em 11 municípios de diversas regiões produtoras de soja e milho do Brasil, durante a safra 2017/2018.
Foi feita uma estimativa dos custos adicionais de plantios de milho e soja com a AP, baseada em dados da experiência de 20 anos nos Estados Unidos.
Houve economia média de 5% nos custos com insumos em semeadoras, equipamentos de preparo do solo, aplicação de agrotóxicos e colhedoras, além de 10% de ganho com adoção da AP em máquinas e equipamentos.
Os pesquisadores concluíram que “as simulações realizadas para a adoção de agricultura de precisão nas culturas da soja e do milho indicam o potencial de impacto positivo dessa prática sobre a lucratividade”.
E não só em culturas anuais, a exemplo dos grãos, como também nas culturas perenes, o uso da AP e suas tecnologias tem avançado, a exemplo do que acontece na cafeicultura.
Pesquisas multidisciplinares mostram que na produção de café já estão sendo utilizadas tecnologias de inteligência artificial, sensores de colheita, drones, classificadores automáticos de grãos e imagens de sensoriamento remoto.
“Essas aplicações em cafeicultura de precisão envolvendo pesquisa multidisciplinar demonstram novas formas relevantes de melhorar o manejo e garantir a sustentabilidade, criando perspectivas para monitorar e mapear a produção”, observa um trecho da pesquisa.
Mas, como também demonstram outros estudos, o retorno econômico da AP depende muito de cada lavoura, dos manejos realizados ao longo dos anos em cada área de produção e da tecnologia empregada para isso.
Quais são as tecnologias da agricultura de precisão?
As tecnologias de agricultura de precisão são variadas e muitas delas são de uso gratuito, como aplicativos de sensoriamento remoto com base em imagens de satélite para monitoramento da lavoura com base no índice de vegetação.
Os tipos de tecnologias de AP que podem ser utilizadas hoje variam de acordo com a necessidade de cada propriedade rural, podendo ser um trator com GPS e piloto automático ou monitor de plantio.
Veja 8 tecnologias de AP e suas aplicações.
1. GPS e GNSS agrícola
O GPS (Global Positioning System) e o GNSS (Global Navigation Satellite System) são duas tecnologias essenciais para o funcionamento de maquinários agrícolas na AP.
Ambos surgiram com os avanços da astronomia e da geografia, inicialmente para uso militar e depois passou a ter utilização em diversos setores produtivos da sociedade.
Com o GPS e o GNSS, os quais funcionam a partir de sinais de satélite, foi possível obter informações geoespaciais sobre as características das áreas de produção e assim realizar o manejo do solo com base na variabilidade espacial.
2. Computador de bordo
Utilizado em tratores, o computador de bordo recebe, processa e armazena dados, para em seguida transformá-los em informações ao operador de trator.
Composto por hardwares e softwares, o computador de bordo faz a comunicação entre o centro de controle de operações e o sistema que monitora o status de cada equipamento.
É o computador de bordo, por exemplo, que gera os mapas de produtividade que serão analisados posteriormente para verificar quais são as áreas mais produtivas da fazenda.
3. Piloto automático agrícola
O piloto automático agrícola faz operações em campo com o mínimo de intervenção humana, já que é guiado por meio de sistema de orientação por satélite.
Muito utilizado em tratores, colheitadeiras e pulverizadores, o piloto automático agrícola realiza manobras eficientes na lavoura em menor tempo e reduz custos.
Os principais benefícios são nas operações com plantio (semeadeira), distribuição de insumos (corretivos de solo, fertilizantes, agrotóxicos) e, sobretudo, na colheita.
4. Barra de luzes
A barra de luzes auxilia o maquinário a seguir em faixas contínuas e paralelas, evitando a sobreposição nas passadas consecutivas e, por consequência, a compactação do solo.
Pesquisas científicas mostram que ela auxilia na redução de insumos, evita desperdícios e reduz o impacto ambiental, sendo uma importante ferramenta da AP.
5. Sensores de máquinas agrícolas
Os sensores de máquinas agrícolas são responsáveis por monitorar funções específicas, como teor de umidade de grãos e quantidade (fluxo), cumprindo função essencial na obtenção de dados para posterior análise no mapa de variabilidade espacial.
Nos drones e satélites, os sensores podem obter informações diversas sobre os atributos da área de produção, desde o estado nutricional do solo e das plantas, bem como do estádio de desenvolvimento das culturas.
6. Drones agrícolas
Os drones agrícolas são umas das principais novidades em agricultura de precisão. Sua utilização, no entanto, já vem sendo feita de diversas formas no agronegócio.
Esses equipamentos são capazes de fazer o mapeamento de áreas agrícolas, a contagem de animais, medir o índice de vegetação, aplicar fertilizantes e agrotóxicos e introduzir na lavoura agentes biológicos que são predadores de pragas.
7. Big Data
O Big Data, na agricultura de precisão, é utilizado para rastreabilidade, predição e gerenciar sistemas produtivos com grandes volumes de dados, já que sua principal característica é a capacidade de armazenar muitas informações, o que ocorre na nuvem.
A partir das informações armazenadas, é possível fazer análises mais abrangentes e, usando a inteligência artificial, predizer situações com base em dados de eventos corriqueiros.
Assim, o Big Data é importante para reduzir vários tipos de risco no setor, sejam eles relacionados ao manejo em campo, ao clima ou à gestão financeira da fazenda.
8. Robótica
O uso de robôs no campo, apesar de ainda estar em fase experimental, já é uma realidade na agricultura de precisão e se mostra eficiente para diversas tarefas.
Eles têm sido utilizados, por exemplo, em fazendas verticais, ambientes protegidos (estufas), onde realizam tarefas diversas, desde o plantio, manejo de pragas, doenças e plantas daninhas, até a colheita.
Como aplicar a agricultura de precisão?
A aplicação da AP em sua fazenda deve partir do entendimento de que cada parte da área de produção possui características próprias e deve ser tratada dessa forma.
Assim, você já terá uma compreensão maior sobre a variabilidade espacial e conhecerá melhor a sua propriedade rural, de modo a fazer uma gestão mais eficiente.
O uso da AP e suas tecnologias é o caminho mais viável a seguir para uma agricultura mais rentável e que tenha sustentabilidade econômica e ambiental.
E o seu retorno econômico, conforme mostram pesquisas da Embrapa, depende de cada lavoura e dos processos de manejo de cada produtor, bem como do seu poder de investimentos em tecnologias de AP.
Na internet, contudo, há diversos aplicativos de celular de uso gratuito que podem servir para obter mais informações detalhadas da lavoura, inclusive com imagens de índices de vegetação, que servem para diversas finalidades.
Nesse sentido, a introdução da AP na fazenda depende também da busca do proprietário ou pessoa responsável por educação sobre como utilizar da melhor forma possível as tecnologias digitais e aplicá-las na fazenda.
Uma pesquisa recente, feita com cafeicultores, sobre a aplicação da AP, mostrou que 59,3% dos entrevistados têm alta perspectiva de uso, 26,6% média perspectiva e 11,1%, baixa.
Apontou ainda o estudo que 51,7% dos entrevistados consideram a falta de treinamento como um grande obstáculo para o uso da AP e suas tecnologias.
Conclusão
No sistema atual de produção agrícola, seja no Brasil ou em outras partes do mundo, usar as tecnologias da AP é algo que só tende a crescer, pois disso depende o agronegócio de uma forma geral para ser sustentável.
Por mais que haja desafios, como baixa conectividade no campo e custo alto de alguns equipamentos, a principal barreira ainda é a educação para atuar com AP, seja para saber como manejar as tecnologias ou como adaptá-las para as necessidades da fazenda.
Mas essa, talvez, seja a barreira mais fácil de ser superada por conta do grande nível de informações disponíveis na internet e das tecnologias de uso gratuito.
Procure saber quais são e, se possível, busque auxílio para entender melhor seu funcionamento.
O passo inicial é você quem dá.