Gestão remota da produção vs. gestão do agronegócio

No agronegócio brasileiro não é incomum encontrarmos produtores rurais que não estejam presentes no dia-a-dia de suas produções pelos mais diversos motivos. Contudo, a competitividade e exigências crescentes não distinguem produtores presentes dos não presentes na propriedade, o que obriga que a gestão desta seja eficiente em ambos os casos.

Gestão da produção ou do agronegócio

O agronegócio brasileiro conta com mais de 5 milhões de produtores rurais, onde a competitividade e a demanda exigente obrigam o estabelecimento de uma gestão eficiente da propriedade. Com o crescimento do agronegócio, a profissionalização é uma grande aliada para o aumento da produtividade e dos retornos financeiros, contudo muitas vezes exige que muitos produtores se afastem do dia-a-dia operacional e passem a olhar para o seu negócio como um todo.

Tradicionalmente, principalmente pela falta de ferramentas de controle, que por sua vez pode estar ligada à falta de tecnologia, estar presente nas atividades diárias operacionais torna-se importantíssimo para o sucesso na produção agrícola e pecuária. Com o passar dos anos, todavia, muitos produtores precisam afastar-se fisicamente da rotina operacional para se tornarem gestores dos seus negócios, o que significa olhar para muitas áreas além da produção, como as de finanças, de recursos humanos, compras e vendas, infraestrutura, entre outras. É extremamente importante destacar que isto não significa perder o controle ou negligenciar o que acontece diariamente do campo.

A gestão remota da produção, portanto, não é caracterizada somente por aquele que vive longe da propriedade. Ela existe em todos os âmbitos onde a produção primária tornou-se um negócio, um agronegócio. O fato é que com a profissionalização os olhos do gestor devem ter visão mais ampla sobre todas as áreas do negócio, e não apenas sobre as tarefas diárias da produção agropecuária. Com a fazenda se tornando uma empresa, os olhos do produtor-gestor sobre as tarefas diárias passam a ser os olhos de seus gerentes, por exemplo, o que garante mais tempo para tomada de decisões estratégicas e que englobam todas as áreas do seu negócio.

Comprovando o fato, sabe-se que existem fazendas profissionais e altamente produtivas que utilizam a gestão remota, constatando que os olhos do dono que engordam o gado não estão somente nas atividades operacionais diárias, e sim no negócio como um todo. O produtor deixa de ser o gestor da produção para se tornar o gestor do agronegócio.

A transformação da fazenda em empresa

Assim como uma empresa, a fazenda também deve ter diversos subsetores que se interagem para a produção de um bem em comum. Estes, por sua vez, devem ser compostos por trabalhadores que respeitem uma hierarquia organizacional entre eles, sendo cada um responsável por uma parte do todo. A somatória das tarefas individuais, então, determinará os resultados obtidos pela empresa, principalmente no médio e longo prazo.

Deste modo, tarefas do dia-a-dia (operações) são realizadas pelos vaqueiros, tratoristas, entre outros, que são funcionários subordinados aos gerentes, por exemplo. Estes, por sua vez, tem a função de coordená-los, sendo os responsáveis pelas decisões táticas da operação. Da mesma forma, os gerentes estão abaixo de outros cargos, e muitas vezes reportam diretamente ao dono do empreendimento, o que poderíamos associar ao CEO (do inglês “Chief executive officer”) ou em outras palavras o “presidente”. De maneira simplista, é assim que empresas se organizam, variando-se quanto à quantidade de setores existentes e alguns outros cargos em diferentes níveis hierárquicos.

A grande vantagem da organização institucional é a divisão de responsabilidades e a estruturação de uma hierarquia no processo produtivo. Vale ressaltar que não estamos defendendo a hierarquia exemplificada, e sim a estruturação de uma hierarquia de trabalho, que é fundamental para o bom funcionamento de uma empresa.

Pirâmide de funcionários da fazenda

O fato nos remete a um questionamento: o produtor rural precisa estar presente diariamente na propriedade para ser um bom gestor, ou ter retorno positivo na atividade? Com responsabilidades divididas, produtores rurais de sucesso são obrigados a desprender suas horas de trabalho (presentes ou não na fazenda) em outras atividades que tem mais impacto nos resultados financeiros do que se certificar do cumprimento de tarefas diárias, como elaborarem ou revisarem o planejamento estratégico do negócio, por exemplo.

Gestão e monitoramento à distância

É essencial para o funcionamento da produção gerida à distância, que mesmo sem estar presente que de fato consiga-se monitorar e controlar os recursos que são empregados na processo produtivo. O mapeamento de processos é um aliado em uma situação como esta, permitindo a instauração de pontos de controle que serão fundamentais para o gestor remoto monitorar e certificar que o negócio está performando como o esperado. Pontos de controle podem se referir ao cumprimento de metas e atividades programadas, acompanhamento de gastos e finanças, controle de estoque de produtos e insumos, entre outros.

Com os pontos de controle definidos é possível ao gestor monitorá-los sem que ele precise presenciar todas as etapas que compõem um processo. A facilidade de gerir a propriedade à distância pode ser melhorada em questões de custos, riqueza e rapidez de informações quando aliada à tecnologia. A digitalização e surgimentos de softwares de controle e gestão, por exemplo, permitem ao produtor não estar presencialmente na propriedade, mas mesmo assim estar presente nas tomadas de decisão e checagem de processos.

Para exemplificar este ponto, supomos que um pecuarista gerencie sua propriedade à distância com auxílio de um software de gestão estratégica. Após instaurar uma hierarquia de trabalho, as atividades de rotina (rodeio do gado, verificação dos cochos de água, verificação da disponibilidade de sal mineral, fornecimento de ração, etc) são de responsabilidade do seu gerente de pecuária, quem coordena a equipe de vaqueiros e com quem tem reuniões semanais sobre as operações ocorridas. Estes, então, alimentam o software com as informações operacionais diárias, permitindo o acompanhamento destas pelos gestores remotos.

Adicionalmente, gestores devem investir nos seus funcionários para que estes estejam engajados com os sistemas de comunicação e controle adotados (seja este um software ou ainda uma caderneta de anotações) e também para que estes sigam a hierarquia pré-estabelecida. Como sabemos, a equipe é parte crucial para o bom funcionamento de qualquer empresa, e portanto é uma peça chave para que uma gestão remota corra bem.

Auditorias dos pontos de controle

Como discutimos, o gerenciamento à distância pode sim vir a ser bem sucedido, o que muito depende da capacidade de se monitorar processos e gerir equipes. Contudo, mesmo os pontos de controle mais bem elaborados devem ser monitorados, afinal todos somos passíveis de erros.

Para isso, preconiza-se que se estabeleça auditorias sobre os pontos de controle adotados. Isto é, pode-se estabelecer parâmetros de avaliação ou metas que se contrapõem a outras, ou ainda metas de certificação de outras, o que diminui a chance de erros e descumprimento de tarefas. Estes podem ser realizados pelo gestor, um funcionário ou ainda um terceiro. Esta medida assegura que metas estejam sendo cumpridas e protocolos estabelecidos estejam ocorrendo como o previsto.

Utilizando o exemplo acima, o ponto de controle escolhido para monitorar seu setor de engorda é o custo semanal com a suplementação e a sua frequência de fornecimento. Mesmo que os valores informados pela equipe estejam dentro no planejado, o gestor instaura uma verificação deste ponto de controle, a conferência do estoque de ração. Essa prática iria sustentar as informações trazidas pela equipe, minimizando possibilidades de erros e incentivando os funcionários a seguirem realizando o que foi planejado.

Gerindo a propriedade de longe figura 1

Gerir a produção de longe é fácil?

Como discutido, o gerenciamento da produção à distância tem diversas ponderações que podem ser realizadas para que a sustentabilidade econômica da atividade não seja comprometida e que os objetivos sejam alcançados. A estruturação de uma hierarquia organizacional, o estabelecimento de pontos de controle e de auditorias sobre estes podem garantir o sucesso dessa prática. Complementando os benefícios citados, a tecnologia pode baratear e agilizar a gestão remota. Por fim, o gerenciamento à distância não é fácil, mas pode sim promover altos retornos econômicos para atividade agropecuária.

Você pode gostar...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *