Gestão de estoque: a maneira correta de se fazer

O agronegócio brasileiro conta com mais de 5 milhões de produtores rurais que movimentam bilhões de reais em estoques dos mais diversos insumos e produtos. A gestão de estoque, portanto, é um fator crucial para o sucesso da atividade, principalmente no longo prazo. O ponto de atenção está nas diferentes maneiras de se administrar esta quantidade de mercadoria, o que afeta diretamente a tomada de decisões e resultados econômicos do agronegócio.

Realidade do estoque físico

Ao armazenar mercadorias, sejam elas insumos ou produtos acabados, gestores os monitoram com dados como a data de entrada, quantidade de entrada, qualidade do produto, data de validade, entre outros fatores não financeiros que são utilizados para futuras tomadas de decisão.

Fisicamente, ao utilizar uma destas mercadorias, o mais comum a fazer é utilizar aquelas que estão a mais tempo armazenadas, visto que estas podem ter prazos de validade, perder qualidade, entre outros fatores. Isso acontece por exemplo em uma fazenda de pecuária leiteira, onde medicamentos que estão mais próximos de terem suas validades expiradas são utilizados primeiro. Do mesmo modo, um agricultor que detêm defensivos agrícolas tem um prazo limite estipulado pelo fabricante para utilizá-los sem comprometer a segurança ou eficácia do mesmo. Produtos acabados também podem seguir a mesma linha, sendo que podem vir a perder qualidade com o tempo, como é o caso de hortaliças, por exemplo.

Seguindo esta prática, o agricultor minimiza desperdícios e perdas de eficiência advindos da expiração ou da redução de eficácia de produtos. Conforme sempre destacado pela Perfam, a gestão financeira ou gestão em geral deve refletir nas suas análises a realidade econômica dos fatos, como o exposto. 

Práticas contábeis problemáticas de gestão de estoque

Muitos gestores e até mesmo softwares, contudo, ainda utilizam práticas contábeis que afetam análises econômicas da atividade agropecuária em questão, comprometendo o monitoramento eficaz do planejamento e da elaboração de cenários. Isso ocorre pois um método financeiro comumente utilizado para gestão de estoques não reflete a realidade econômica da dinâmica de movimentação de estoque, o método de preço médio da mercadoria.

O método de custo médio de estoque só é permitido pois permite um monitoramento menos detalhado das mercadorias em estoque, tornando a gestão de estoque menos custosa. Entretanto, produtos comprados em épocas distintas provavelmente não apresentam os mesmos preços. Com a tecnologia permitindo a redução substancial do custo da gestão profissionalizada, torna-se fundamental buscar alternativas que analisem de forma fidedigna as movimentações de estoque.

Exemplificando o método de custo médio de forma ilustrativa, temos o preço do estoque em questão sendo monitorado com preços médios, onde soma-se os diferentes valores de entrada das mercadorias, dividindo-as pela quantidade total dos mesmos.

Exemplo:

Um agronegócio realiza a compra de milho para um projeto de engorda em confinamento com vários giros. São cinco compras de 100 kg de milho cada a R$10, R$20, R$30, R$40 e R$50 respectivamente, com o preço médio do kg de R$0,30, portanto.

Sabidamente, os animais dos primeiros giros serão alimentados com o milho das primeiras compras, enquanto que os últimos giros com o milho das últimas compras. Ao usar o método de custo médio, estamos afirmando que o custo de nutrição manteve-se constante para todos os giros, quando sabidamente isso não foi o que de fato ocorreu. O método neste caso está subestimando a rentabilidade dos primeiros giros, e superestimando a rentabilidade dos últimos, que por suas vezes podem até não serem economicamente viáveis (trazem prejuízos).

O fato é que essa prática não condiz com a realidade, e os resultados do confinamento estão mal estipulados.

A maneira contábil correta de se gerir estoques

Práticas contábeis preferíveis e internacionalmente recomendadas devem também ser aplicadas no agronegócio brasileiro. São estas as de conceitos de estoque FIFO (do inglês “First in, first out”), ou seja, o primeiro produto a entrar no estoque (e seu valor correspondente), deve ser o primeiro a sair dele.

Para simular o conceito FIFO voltemos ao exemplo anterior. Ao utilizar práticas contábeis corretas de gestão de estoque, os primeiros animais comeriam o milho de R$0,10/kg (ou R$10/100kg), e os últimos teriam um custo com o milho de R$0,50/kg (ou R$50/100kg). Desta maneira, se caso a atividade se inviabilizasse devido a um aumento no preço do milho, o produtor poderia optar pela não realização de todas as compras, optando por investir seu dinheiro em outras atividades.

A correta gestão do estoque, portanto, é fiel à realidade, onde o valor do insumo utilizado é efetivamente o valor alocado ao produto final. Desse modo, a acurácia das análises financeiras é muito maior, eliminando riscos de sub ou superestimar resultados e obtendo uma relevância indiscutivelmente maior para futuras tomadas de decisão. 

Gestão de estoque FIFO

Por que não fazer corretamente?

Como mencionamos, é comum no agronegócio utilizar práticas de gerenciamento de estoque através de preços médios. Isso acontece pois este é um método fácil de ser empregado, principalmente nas décadas anteriores, onde a tecnologia ainda não era presente.

Nos dias de hoje a tecnologia, com a rapidez, baixo custo e facilidade por ela trazidas, permite que se opere com práticas corretas de gestão de estoques, favorecendo planejamentos estratégicos, técnicos, mercadológicos e financeiros subsequentes e beneficiando a tomada de decisões, além de entregar relatórios contábeis fieis a realidade econômica do agronegócio em questão.

A profissionalização do agronegócio brasileiro é inevitável para o sustento da atividade no longo prazo. A utilização de boas práticas de gestão de estoques é indispensável para maximizar os retornos financeiros e tomar decisões baseadas em análises fiéis à realidade da atividade praticada.

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