Ciclo Agropecuário e a Gestão Estratégica

O agronegócio, dotado de particularidades, é realizado em ciclos agropecuários, um grande desafio que precisa ser compreendido para o sucesso da atividade. O ciclo agropecuário é longo em sua maioria, e apesar do grande aumento de eficiência nos dias de hoje, existe uma limitação biológica que demanda mais tempo para obter os produtos finais. Fatores climáticos, sazonalidades produtivas, variações na oferta e demanda oscilando preços, fluxo de nutrientes, utilização da terra como participante da produção são particulares a cada cultura, e definem a duração dos diversos ciclos agropecuários, que em alguns casos podem durar décadas, o que ressalta a importância da gestão estratégica.

A importância de se pensar no longo prazo

Ignorando estes fatores, muitos acabam iniciando atividades pelo que chamamos de efeito manada, uma decisão mal tomada que pode, muitas vezes, acabar com um agronegócio em poucos anos. Chamamos de efeito manada o que ocorre com produtores que se vêem atraídos por uma atividade que está “na moda”, ou que vem se destacando atualmente. Este efeito pode impactar o bolso do próprio produtor de algumas formas diferentes. Ao fazerem esta escolha, frequentemente sem embasamento ou informação, acabam encontrando grandes dificuldades no retorno financeiro. Ainda, devido ao grande número de novos produtores ingressantes, a oferta abundante do produto acaba diminuindo preços, podendo condenar a viabilidade econômica da operação por até anos.

Muito delicadas, as decisões estratégicas mais simples podem tanto comprometer ou alavancar retornos no longo prazo. São decisões que podem, ou não, incluir o desprendimento de grandes quantias de capital, abrangendo variáveis financeiras, políticas, mercadológicas, pessoais, risco entre outros, que afetarão a produção, principalmente no médio e longo prazo. Ressaltando seu caráter sutil, uma decisão estratégica errada poderá demorar anos para aparecer, devido à extensão do ciclo agropecuário em que produtores estão inseridos. Certamente, isto vai gerar alguns casos danos irreversíveis ao negócio, o que explicita a grande importância da realização do planejamento estratégico.

A estratégia pode ou não envolver desprendimento de capital

Imagine um pecuarista que investe milhares de reais para a construção de uma fábrica de ração para abastecer seu confinamento.

Meses depois da implantação da fábrica, preços de reposição sobem juntamente com o do milho, ingrediente mais utilizado na formulação da ração, o que inviabiliza a terminação do gado e faz com que o produtor encerre a atividade. Como recuperar os milhares de reais investidos na fábrica de ração? O que fazer com os trabalhadores que foram contratados para operação? Como voltar atrás dessa decisão depois de executada? As consequências, portanto, irão afetar a necessidade de caixa e a sustentabilidade econômica da empresa, que mesmo com um bom planejamento estratégico, sofrerá nas próximas safras.

Essa é uma situação que envolve muito capital investido. Mas, podemos citar também outra que não envolve a aquisição de ativos e/ou representa uma alta nos custos operacionais. Imagine um produtor que possui um eucaliptal plantado há dois anos. O capital inicial já foi desprendido e boa parte do custeio da produção já foi pago. Ele tem a opção de no ano posterior vender a produção como lenha para carvoaria, ou ainda esperar mais três anos e vender para a indústria madeireira, por um valor maior. A alocação de capital já foi realizada, a única diferença é o prêmio pago ao dinheiro após esse período. Qual opção escolher? Será que o mercado manterá seus padrões? Seria muito arriscado esperar mais três anos? Ele teria condições de esperar mais três anos sem essa receita?

A gestão financeira, apesar de não ser a protagonista da cena, é sempre um pilar que precisa estar saudável. Ela se combina com as decisões estratégicas e garante solidez e liquidez para operação, sendo importantíssimo pro agronegócio, portanto, considerá-la nas decisões estratégicas.

Retomando o segundo exemplo, vamos supor que o dono do eucaliptal decida esperar até que este alcance cinco anos para comercializá-lo. Porém, no quarto ano, por motivos de políticas externas e mercadológicas, o preço da celulose despenca e o valor do seu eucaliptal decresce em 40%. Junto a esta situação, sua safra de soja sofre com o clima e a produção fica muito longe da esperada, e o dinheiro faz-se necessário para pagamento de dívidas. Sem alternativas, pois ele necessita de caixa, ele vende seu eucaliptal, mesmo ciente da perda de dinheiro que isto acarretará. Esta situação ressalta a importância da gestão financeira aliada à estratégica, onde decisões estratégicas, apesar de não serem meramente financeiras, tem uma relação direta e reta com as finanças.

Frutos de um bom planejamento

Em suma, o planejamento estratégico de curto, médio e longo prazo é essencial para que as decisões de hoje não reflitam negativamente meses ou anos depois, quando se conclui o ciclo agropecuário em questão. Uma gestão estratégica bem realizada exige pouco, minimiza flutuações nos ciclos agropecuários, prevê riscos que afrontam produções no longo prazo, e ainda o condicionam a tirar vantagens de oportunidades no médio e longo prazo, garantindo a maximização do investimento agropecuário.

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